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Andrea Matarazzo: ‘#SPabandonada’

O prefeito de uma cidade como São Paulo só deve ter como objetivo ser prefeito de São Paulo, escreve Andrea Matarazzo

10/01/2019

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Andrea Matarazzo, ex-vereador por São Paulo, ex-suprefeito da Sé, secretário municipal de Serviços e secretário municipal das Subprefeituras 

 

 

Muito se discute sobre se o período de mandato ideal de um prefeito seria de quatro ou cinco anos, com ou sem reeleição, para ser possível implementar com qualidade projetos que precisam de continuidade.

Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, dizia que “o líder é peça essencial dentro das equipes, pois ele é o responsável por fazer a mediação entre os liderados e os objetivos da organização”.

Levando em conta esses preceitos, é compreensível a desastrosa deterioração que vemos em São Paulo. A última eleição de prefeito foi em outubro de 2016. Desde então, já se alternaram quatro prefeitos. O eleito, o vice e dois presidentes da Câmara, que assumiram interinamente.

Nas secretarias de “atividades fim”, a alternância de secretários não tem sido menor. Pela Secretaria de Transportes, que cuida de um dos principais problemas da cidade, a mobilidade, passaram três titulares – um período médio de oito meses cada.

A Secretaria de subprefeituras, hoje com o pomposo nome de “Prefeituras Regionais” mas com humilhante orçamento, cuida de toda a zeladoria e administra as 32 Prefeituras Regionais. Está nela também a gestão dos 24 cemitérios de uma cidade onde morrem cerca de 250 pessoas por dia. São atividades delicadas e complexas, que, se não funcionarem de forma articulada e rápida, farão o cidadão sofrer. E ele tem sofrido muito!

Eu já fui subprefeito e secretário de subprefeituras e posso assegurar que o tempo para um subprefeito conhecer o território, montar equipe, definir prioridades e implementá-las não é curto. Pois bem. Essa secretaria já teve três titulares. Nas 32 Prefeituras Regionais, já passaram ao menos 70 subprefeitos nesse mesmo período. Só na Prefeitura Regional do Ipiranga foram cinco prefeitos, ou seja, um a cada quatro meses e meio!

Nesta administração, a alta rotatividade é a regra. Tanto nas secretarias como nas Prefeituras Regionais. As justificativas são sempre as mesmas: influência da Câmara, indicações políticas etc. Não é verdade.

Já fui presidente de estatal, secretário de Estado, ministro e secretário municipal. Nunca nenhum político impingiu alguém na administração. Indicações acontecem e são bem-vindas quando os indicados têm perfil e currículo adequado. Obviamente, a avaliação precisa ser criteriosa.

Se funcionam, ficam. Se não funcionam, saem. Independentemente de quem indicou. É o mesmo critério que qualquer empresa utiliza. Já tive ótimos profissionais que me foram apresentados e péssimos auxiliares escolhidos por mim mesmo. Os bons ficaram, e os ruins saíram, independentemente de sua origem.

Quando estive na prefeitura, o critério adotado pela gestão na escolha de subprefeitos era a competência administrativa e política, sem compadrio nem toma lá, dá cá. O objetivo era eficiência e agilidade em atender às demandas.

O sucesso de uma gestão municipal é o bem-estar da população. É uma tarefa hercúlea. São Paulo tem 17 mil quilômetros de ruas, 34 mil quilômetros de calçadas, 570 mil pontos de iluminação pública e 1 milhão de alunos que consomem 2 milhões de refeições diariamente. A cada dia surgem 600 novos buracos, e a cada ano devem ser plantadas 150 mil árvores. Sem falar dos problemas crônicos na saúde, do trânsito e da violência.

Para conseguir entregar ao cidadão uma cidade minimamente funcional, é preciso dialogar com as pessoas, debater com as lideranças dos bairros, ouvir os vereadores e, fundamentalmente, trabalhar para a cidade com objetividade e humildade.

A boa administração precisa ter liderança e continuidade na gestão. O prefeito de uma cidade como São Paulo só tem que ter uma prioridade: facilitar a vida dos cidadãos para melhorar a vida de todos.

O prefeito de uma cidade como São Paulo só deve ter um objetivo: ser prefeito de São Paulo.

 

Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 10 de janeiro de 2019.

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