Henrique Meirelles: ‘Consequências não intencionais’

Em artigo, ex-presidente do BC usa a China e os EUA como exemplos de como uma economia voltada à competitividade e ao livre funcionamento dos mercados gera mais eficiência, riqueza e bem-estar às pessoas.

31/08/2015

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Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e colaborador do Espaço Democrático

A dupla EUA-China, principal responsável pela dinâmica da economia mundial, vive revelador processo de rearranjo iniciado com a crise de 2008.

A China teve algumas décadas de progresso elevado baseado em grande disponibilidade de mão de obra, salários baixos, ausência de benefícios trabalhistas e muito investimento. A produção era voltada à exportação, aproveitando a demanda das sociedades consumistas de EUA e Europa. Já a poupança excedente era investida em papéis do Tesouro americano, financiando o alto consumo daquele país. Na física, uma situação descrita como equilíbrio instável.

Esse processo acabou a partir de 2008, quando os EUA atingiram seu limite de endividamento e se readaptaram com redução de dívidas, elevação da poupança e incremento do investimento e da produção.

Do lado chinês, o governo não aceitou a necessidade radical e súbita de reorientar sua economia produtora-exportadora para uma economia mais baseada no consumo, que gera crescimento menor.

Pequim enfrentou a situação com gigantescos investimentos imobiliários e em infraestrutura, num processo de endividamento ironicamente similar à origem da crise americana. Essa fase também se esgotou, e a China passa gradualmente a um novo equilíbrio, com menos investimento e poupança e mais consumo doméstico. Nesse processo, o PIB cai de 10% ao ano para 7%, caminhando para 5%.

Os problemas desse ajuste são amplificados pelo alto intervencionismo do governo na economia e nos mercados, que gera a volatilidade atual.

Paralelamente, os EUA iniciam fase mais sólida de crescimento, mas com situações de volatilidade como na Bolsa de NY nesta semana. O país saiu da crise com injeção maciça de liquidez que agora tende a ser revertida pelo Fed (o BC do país), corrigindo exageros.

Na China, porém, o reajuste é mais truculento e instável em função das interferências governamentais. Elas podem ter efeitos positivos num certo horizonte, mas em prazo maior causam as chamadas consequências não intencionais, muitas vezes mais relevantes que as intenções originais.

Exemplo disso são as correções atuais da economia brasileira resultantes do elevado grau de intervenção governamental dos últimos quatro anos. O intervencionismo baseado em distorções de preços e expansão fiscal nos levou a esse doloroso processo de ajuste e à inusitada conjunção de recessão forte (queda de 1,9% no PIB), desemprego crescente, aumento da tributação, inflação elevada e juros altos.

Nos EUA, na China e no Brasil valem os mesmos princípios de que uma economia voltada à competitividade e ao livre funcionamento dos mercados gera mais eficiência, riqueza e bem-estar às pessoas.

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