TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

CTI Renato Archer está pronto para novos desafios

Instituição, revitalizada na gestão de Gilberto Kassab, é dirigida agora pelo engenheiro Jorge Vicente Lopes da Silva

10/01/2019

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Jorge Vicente Lopes da Silva, diretor do CTI

 

Edição: Scriptum

 

O Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer é uma unidade de pesquisa fundada em 1982, batizada em homenagem ao primeiro ministro da Ciência e Tecnologia da história do Brasil, que ocupou o cargo entre 1985 e 1987.

Vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a instituição, instalada em Campinas (SP), promove interface entre o setor acadêmico e a indústria e desenvolve diferentes linhas de pesquisa em tecnologia da informação, e enfoca hoje temas como Indústria 4.0 (que enfoca o desenvolvimento de tecnologias com ênfase em automação e Internet das Coisas), “big data” (proposição de soluções para análise de grandes volumes de dados), manufatura avançada e soluções para tecnologia de governo.

O engenheiro Jorge Vicente Lopes da Silva, diretor do CTI, conta nesta entrevista que assumiu o posto em dezembro, após seleção por um comitê de busca, aponta aspectos da relação com o Ministério e desafios futuros.

De forma geral, que avaliação o sr. faz da gestão do Ministério nesses últimos dois anos e meio? E como o CTI Renato Archer se valeu da cooperação com a gestão do Ministério para desenvolver e aprofundar projetos?

Essas respostas estão baseadas em informações gerais que chegam da direção anterior e também nos 15 dias finais de dezembro da atual gestão do CTI Renato Archer. Verificamos que, a longo prazo, a gestão do Ministério sofreu instabilidades com as últimas trocas de ministros e equipes de primeiro escalão, em especial as grandes alterações com a fusão do Ministério da Comunicação, o que gerou dificuldades ao reformatar os caminhos tradicionalmente existentes de acesso dos diretores aos secretários e ao próprio ministro. Mas também tivemos muitas oportunidades, na medida em que possibilitou a renovação de procedimentos e, principalmente, o acesso mais direto e ágil nos últimos dois anos, principalmente com a disponibilidade oferecida pelos secretários e pelo próprio ministro no atendimento a demandas específicas e importantes do CTI Renato Archer. Apenas para citar algumas oportunidades, a destinação de recursos na forma de bolsas PCI, especialmente em um ano de crise econômica e cortes de recursos, bem como a disponibilização do orçamento em prazos compatíveis com a exequibilidade, o apoio a iniciativas na área de tecnologias assistivas e aplicação de tecnologias na área de saúde e mesmo a destinação de recursos especiais, via TED, para manutenção de equipamentos, foram cooperações importantes com a gestão do MCTIC nestes últimos dois anos e meio.

Em especial, o CTI Renato Archer pretende continuar contando com a cooperação da gestão do Ministério no apoio a iniciativas de relevância nacional, tais como a saúde 4.0 e a indústria 4.0, duas vertentes importantes desta nova direção do CTI, desdobramentos de ações anteriormente desenvolvidas pelo CTI Renato Archer, inclusive com parceria com outros ministérios, como o da Saúde; bem como aproveitar janelas de oportunidade, oferecendo soluções tecnológicas e ciência aplicada ao Ministério, em especial na área de desenvolvimento de soluções para apoio à gestão e segurança da informação, tradicionais nichos de atuação do CTI Renato Archer, como foi na parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a segurança de informação das eleições, dos Jogos Olímpicos e Copa do Mundo.

É notório que para se produzir ciência e tecnologia são necessários recursos, e é fundamental o investimento em ciência, tecnologia e inovação. Como o sr. enxerga esse aspecto, do ponto de vista de dirigente de uma entidade tradicional, com mais de 30 anos – produtora de conhecimento e de projetos de relevo como é o CTI Renato Archer?

A disponibilidade de recursos financeiros, bem como sua gestão criteriosa e responsável, é essencial para a produção de ciência e tecnologia, na medida em que viabilizam investimentos em recursos humanos, infraestrutura e equipamentos, tripé essencial ao suporte da pesquisa e inovação. Neste sentido, a disponibilidade de orçamento da União, bem como recursos aportados a fundo perdido, por meio de encomendas a órgãos de fomento e entidades financiadoras nacionais e internacionais são de grande importância e áreas de atuação mandatória do Ministério enquanto responsável pelos caminhos da Ciência e Tecnologia no País. Esta atuação dá-se tanto na definição de caminhos, como é o caso da ENCTI (Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação), quanto na abertura de frentes de recursos e definição de prioridades de destinação. Mas não somente recursos públicos ou de orçamento da União devem ser pleiteados na composição da carteira de financiamento de um instituto de pesquisas. Também recursos privados podem e devem ser canalizados para esta finalidade, o que pode ser feito a partir de projetos de pesquisa e inovação desenvolvidos com financiamento de empresas privadas, intermediados por fundações de apoio, além de outros tipos de parcerias que resultem em aceleração do desenvolvimento científico e tecnológico, sem necessariamente incluir repasses financeiros, tais como o fomento a empresas de alto teor tecnológico, por meio de parques tecnológicos.

O que vislumbra como grandes desafios do CTI Renato Archer para o próximo período e como a entidade pretende seguir contribuindo com o desenvolvimento acadêmico e industrial e interface entre esses dois universos?

Integração de pessoas e obsolescência do conhecimento são dois desafios importantes. A integração de pessoas, seja no plano interno ao CTI, seja entre o CTI e potenciais parceiros externos, é essencial para catalisar as iniciativas já viabilizadas internamente, tais como o uso de tecnologia na Saúde. Essa integração deve produzir confiança nas equipes de pesquisa, que permitirá que busquem financiamentos mais ousados e de mais longa duração. Trará parceiros mais comprometidos com o crescimento conjunto, fomentando a fixação da tecnologia e o compartilhamento de recursos. Finalmente, pessoas bem integradas poderão agir de forma mais livre e criativa, constituindo ambientes de interação multidisciplinares, que são a base do desenvolvimento da pesquisa de ponta e da inovação.

Ter consciência e enfrentar a obsolescência do conhecimento é essencial para acompanhar as ondas tecnológicas, mas mais que isso, é importante para manter atualizados os pesquisadores e a infraestrutura do centro de pesquisas. Discutir constantemente a utilidade da ciência que se desenvolve e seu viés tecnológico e de inovação são obrigações de um centro de pesquisas e devem funcionar como balizas para observatórios de tecnologia. A fronteira do conhecimento é tradicionalmente encontrada no âmbito acadêmico de grandes universidades e deve ser trazida para os centros de pesquisa de excelência para ser transformada em soluções. Esta interface com o lado acadêmico do centro de pesquisas é essencial na consciência da obsolescência do conhecimento e seu enfrentamento, seja por meio da atualização constante de seus recursos humanos, seja pela amortização de seu passivo tecnológico na forma de aplicações e serviços tecnológicos oferecidos diretamente à sociedade. Assim, os grandes desafios da gestão atual do CTI Renato Archer, iniciada em meados de dezembro de 2018, é a de integrar e resgatar a confiança mútua e autoestima da força de trabalho, tanto servidores quanto colaboradores, em projetos de importância nacional e com potencial de financiamento e inovação, como é o caso da manufatura avançada e da saúde, sem esquecer a excelência acadêmica e as cooperações com outros institutos e universidades.

O MCTIC desenvolveu na gestão encerrada em dezembro de 2018 projetos voltados à Manufatura Avançada, Indústria 4.0, Internet das Coisas e também a Estratégia Digital Brasileira, que visa a criar as condições para que o Brasil explore adequadamente, em diferentes aspectos, a revolução digital que cresce a cada dia. De que forma o CTI Renato Archer trabalha nesses campos e como pretende desenvolvê-los em seus projetos?

O CTI Renato Archer trabalha em todas estas frentes em dois prismas principais, desenvolvimento e aplicação.

No desenvolvimento, o CTI está capacitado a trabalhar com toda a tecnologia de acesso à Internet das Coisas, Manufatura Avançada e Indústria 4.0, dispondo de pessoal especializado e capacitado em pesquisa e inovação nas áreas fundamentais dessas tecnologias, tais como projeto de microprocessadores e microssistemas, encapsulamento eletrônico, células fotovoltaicas, nano sistemas, tecnologia de filmes finos, entre outras.

Nas aplicações, o CTI também está capacitado a utilizar todas as tecnologias envolvidas na Indústria 4.0, Manufatura Avançada e Saúde 4.0, tais como a Manufatura Aditiva, tecnologias tridimensionais para tratamento de imagens médicas e visualização científica avançada, robótica e visão computacional, além de ferramentas teóricas de mapeamento de processos, “bigdata” e “machine learning”.

O desenvolvimento desses prismas, na nova gestão do CTI iniciada em dezembro de 2018, permeará todos os projetos, mas principalmente convergindo para quatro eixos principais: Indústria 4.0, Saúde 4.0, Tecnologias Convergentes e Habilitadoras e Tecnologias de Governo.

Como o sr. qualifica o papel do ex-ministro Gilberto Kassab à frente do MCTIC e que avaliação faz deste como interlocutor da comunidade científica e dirigentes de entidades de pesquisa?

O ex-ministro teve papel de destaque na gestão dos recursos destinados à Ciência e Tecnologia, priorizando áreas de interesse estratégico nacional, tais como a fonte de luz Sirius, bem como na busca de recursos adicionais e projetos de encomenda, apesar da situação financeira crítica do Brasil. Além disso, sua equipe proporcionou vias de acesso para demandas dos dirigentes das entidades de pesquisa, as quais tiveram resultados positivos. O ex-ministro e sua equipe foram extremamente receptivos para tratar questões críticas em alguns institutos, como o CTI Renato Archer, inclusive com antecipação do comitê de busca.

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