BALANÇO

‘Governo deve aproximar população da ciência e tecnologia’

A física Anelise Pacheco, diretora do Museu de Astronomia e Ciências Afins, fala sobre os esforços da gestão Gilberto Kassab para promover o acesso da sociedade ao conhecimento

15/01/2019

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Anelise Pacheco, diretora do Museu de Astronomia e Ciências Afins

 

Edição: Scriptum

 

O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) localizada no Rio de Janeiro e um dos principais museus do país. A entidade tem papel de revelar o desenvolvimento científico e tecnológico na área de astronomia e uma de suas missões é promover o acesso da sociedade ao conhecimento.

Para a diretora do museu, a física Anelise Pacheco, embora o brasileiro seja avesso à linguagem científica, as instituições devem aproximar o público desse universo a partir de experiências do cotidiano, da experimentação e da linguagem e das tecnologias existentes. Para ela, a cultura brasileira ainda não incluiu os museus no cotidiano da população, como espaço de lazer. Por isso, acredita, cabe ao governo, com políticas públicas do Ministério da Educação e do MCTIC, incentivar a popularização da ciência.

Para ela, a gestão do ex-ministro Gilberto Kassab à frente do Ministério pode ser citada como um exemplo de apoio à aproximação da ciência à população. Na entrevista a seguir, a diretora do MAST cita o cumprimento de promessas para continuação de obras que estavam paradas, como a aquisição de dois elevadores panorâmicos e finalização do Centro de Visitantes, que se arrastava há mais de cinco anos, além de compra de equipamentos que não se efetivava há décadas.

Apesar do MAST ter 36 anos de existência, ainda há pouca visibilidade diante da sociedade. Qual o motivo desse desconhecimento?

O Museu de Astronomia fará 36 anos de existência em 8 de março de 2019. Atribuo a pouca visibilidade ao temor da instituição em ser transferida para o Ministério da Cultura, como ocorreu no passado, e priorizarem a imagem de unidade de pesquisa em detrimento da de museu de ciências. Além disso, a maioria dos diretores era historiadores da ciência que, pelo seu perfil, não priorizavam a visibilidade do MAST e sim a pesquisa desenvolvida internamente.

A sua gestão deu prioridade para reverter esse quadro. Quais as ações que o MAST realiza para se popularizar?

A primeira medida que tomamos foi contratar um bom designer e bons assessores de imprensa para divulgarmos para a sociedade e de maneira atrativa os eventos produzidos pelo MAST. Mudamos o coordenador de Educação que estava acomodado em realizar as mesmas atividades há mais de quinze anos, passamos a criar eventos para efemérides científicas, além das tradicionais do MCTIC (como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e participação na SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência),e fizemos parcerias com outras unidades como o IMPA, RNP e CBPF. Por fim, organizamos duas grandes exposições com dois dos maiores curadores brasileiros de renome internacional (Marcello Dantas e Liana Brazil).

Em se falando em popularização, a ciência no Brasil também precisa estar mais próxima das pessoas comuns. Como a sra. vê a situação e o que precisa ser feito?

Percebo que há um grande preciosismo em relação às atividades que podem ser desenvolvidas dentro de um museu de ciências. E este preciosismo tem um efeito paralisante. O público comum é naturalmente avesso à linguagem científica. E a missão dos museus de ciências é justamente a de aproximar este público a partir de experiências do cotidiano, da experimentação e da linguagem e das tecnologias existentes. Montamos em 2018 uma exposição com instalações feitas por alunos de graduação do curso de Design da PUC utilizando realidade aumentada e realidade virtual. Penso que são iniciativas deste tipo que irão aproximar jovens e o público leigo da ciência e da tecnologia.

De quem é a responsabilidade de popularizar a ciência? Dos cientistas, dos institutos, do governo federal ou da iniciativa privada?

Penso que o Governo Federal tem a maior responsabilidade em popularizar a ciência. Seja por meio do Ministério de Educação ou do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, já que eles que darão as diretrizes e os subsídios para tal. Os institutos como o MAST têm a missão prioritária de realizar a popularização. Para os cientistas, faz parte de seu ofício popularizar a ciência, só que indiretamente.

Como a internet pode facilitar a divulgação da ciência? De que forma o MAST utiliza as redes sociais?

A internet é hoje o meio mais eficaz de disseminação de informação, seja através das redes sociais, seja dos portais de bases de dados. O MAST abriu um perfil no Instagram em 2018 conseguindo alcançar o número de 10 mil seguidores em um ano. Número este maior que o do Museu da Vida, da Fiocruz. Mudamos a linguagem utilizada no Facebook e vamos investir no Youtube em 2019.

 

“Para os cientistas, faz parte de seu ofício popularizar a ciência, só que indiretamente.”

 

Com o incêndio do Museu Nacional o MAST já é visto com “outros olhos” em termos de apoio?

Infelizmente não. A cultura brasileira ainda não introjetou os museus em seu cotidiano e como espaço de lazer. Na época do incêndio observamos milhares de pessoas se manifestando consternadas, mas que jamais entraram em nenhum museu brasileiro. Tivemos um aumento de público no MAST na semana do incêndio que não perdurou.

As últimas gestões dos ministérios deram apoio a aproximação da ciência à população?

Só posso falar pela gestão do ministro Kassab. Esta gestão deu total apoio a aproximação da ciência à população.

O Brasil viveu um período de crise econômica que afetou a destinação dos recursos, porém o Ministério conseguiu cumprir com seu orçamento reduzido a concretização de projetos e obras no MAST. Quais foram os projetos e obras que o Museu realizou nesse período?

O MAST conseguiu realizar o restauro da claraboia e a pintura do prédio do Museu, conseguiu adquirir dois elevadores panorâmicos e finalizar uma obra do Centro de Visitantes que se arrastava há mais de cinco anos, conseguiu comprar equipamentos de TI que não eram atualizados há dez anos e ter recursos para realizar uma exposição sobre a efeméride de Sobral, que comemora os 100 da comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein (em 29 de maio de 1919 a cidade de Sobral, no interior do Ceará, teve um eclipse solar total, objeto de estudo de expedições científicas e que foram objeto de estudo complementar às teorias de Albert Einstein, que haviam sido apresentadas quatro anos antes).

Como a sra. qualifica a gestão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações nesses últimos dois anos e meio?

Na minha opinião a gestão do ministro Kassab foi excelente não só para o MAST, mas para todas as unidades. Os recursos que precisávamos para as obras citadas acima foram repassados conforme compromissos do ministro Kassab.

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