BALANÇO

Mais apoio ao desenvolvimento científico do Nordeste

Em entrevista, Lygia Britto, diretora do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, destaca ações da gestão Kassab no MCTIC para alavancar a atuação do órgão

18/01/2019

FacebookWhatsAppTwitter

 

Lygia Britto: Notável avanço se verificou na articulação do MCTIC com os diversos atores do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, além da interlocução entre as unidades de pesquisa do próprio Ministério.”

 

Edição: Scriptum

 

Exercendo papel essencial na valorização das linhas de pesquisa voltadas ao desenvolvimento estratégico da região Nordeste, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), unidade vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), viveu um período positivo durante a gestão do ministro Gilberto Kassab à frente da pasta. A avaliação é de Lygia Britto, diretora da entidade localizada em Recife (PE), que, na entrevista a seguir, fala sobre o desempenho do Centro nos últimos anos e as demandas que ainda precisam ser atendidas.

De acordo com ela, a unidade de pesquisa – que ainda necessita de novos investimentos em recursos humanos e concursos públicos voltados a quadros especializados nas áreas de ciência e tecnologia – cita o fortalecimento da Diretoria de Organizações Sociais e Institutos de Pesquisa, que “assistiu ao Cetene na sua manutenção e desenvolvimento institucional” como uma das conquistas da gestão Kassab. Lygia Britto destaca ainda seus esforços, em meio aos sucessivos bloqueios orçamentários, para atender às necessidades do Centro.

Veja a entrevista a seguir:

A região Nordeste do país tem enorme potencial de desenvolvimento, reúne polos de pesquisa, universidades de prestígio e pessoal qualificado no campo científico. De que forma o Cetene tem contribuído para o aprofundamento da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico que são produzidos nesta região do país?

Com prioridade de atender as demandas da sociedade, o Cetene atua articulando o conhecimento científico e tecnológico e o acesso ao fomento, promovendo, desta forma, a transferência de tecnologia de produtos e processos que contribuam com o desenvolvimento da região Nordeste. A atuação do Cetene prevê ainda ações de divulgação dos resultados provenientes dessas cooperações. Seminários, fóruns e capacitações são realizados no intuito de informar a sociedade acerca de ações do Centro, de seus parceiros e de outros agentes do sistema de ciência, tecnologia e inovação. Toda essa interação com a sociedade permite um fluxo de transferência de tecnologias que inserem na região ações, técnicas e produtos inovadores que colaboram com o desenvolvimento socioeconômico do Nordeste. Formado por profissionais qualificados e com foco permanente no futuro, que pensam nas mais criativas soluções para as mais diversas demandas, o Cetene trabalha em parceria com universidades, empresas e outros centros de pesquisa, promovendo inovação, difundindo tecnologias e multiplicando competências, com capacitação de pesquisadores. Os processos são flexíveis, desburocratizados e atendem especificidades locais, fazendo uma importante ponte entre projetos em busca de apoios e apoiadores, além de ser um instrumento importante de inserção de tecnologias no setor produtivo e na sociedade, que faz orientação para ações de implantação de projetos tecnológicos, fundamentados em estudos científicos e organização em cooperativas e associações para capacitação das comunidades. Além disso, o Centro permite a colaboração entre as unidades de pesquisa e ensino de todo país e busca facilitar a formação de redes de pesquisas temáticas, que solucionam problemas em diversos segmentos em escalas regionais e nacionais.

Quais os principais ramos de atuação da instituição? Há potenciais de desenvolvimento tecnológico na região Nordeste com focos, por exemplo, na interface entre pesquisa acadêmica e o setor industrial, como biocombustível, nanotecnologia e biotecnologia. Como se dá esta interface e como tem avançado? E quais são os ramos de pesquisa?

O Cetene foi criado para o atendimento às mais variadas demandas relacionadas à Tecnologia e Inovação, bem como para a capacitação de pesquisadores. Atua principalmente no Nordeste, junto às empresas do setor produtivo, e outras instituições de pesquisa, oferecendo soluções tecnológicas inovadoras e serviços técnicos especializados. Sua atuação está direcionada às áreas tecnológicas de biotecnologia, nanotecnologia, microscopia, microeletrônica, inovação e prospecção tecnológicas, processamento e caracterização de materiais e química analítica. Na biotecnologia, as atividades são ligadas ao agronegócio, agroindústria e processos industriais de transformação envolvendo microrganismos, enzimas ou outras biomoléculas, respectivamente. Para isso o Cetene dispõe de laboratórios de pesquisa que trabalham com cultura de tecidos vegetais, bioprocessos e bicombustíveis. Além dos laboratórios o Centro conta ainda com duas unidades de escalonamento produtivo, o chamado ‘scale up’: a Biofábrica Governador Miguel Arraes – para micropropagação de espécies vegetais e a Usina Experimental de Biodiesel, localizada em Caetés, Pernambuco. A nanotecnologia é uma ferramenta de mobilização empresarial, de inovação e geradora de novos negócios no Nordeste. Nessa área, o Cetene tem os Laboratórios Multiusuários de Nanotecnologia – LMNano, Microscopia e Microanálise. O LMNano tem por objetivo disponibilizar na região Nordeste uma moderna infraestrutura instrumental de análises de estrutura, morfologia e propriedades de produtos, insumos e materiais em geral. O Laboratório foi instalado em 2009 e consiste numa “open facility” aberta aos pesquisadores e também para prestação de serviços tecnológicos às empresas. A microeletrônica conta com o Laboratório para a Integração de Circuitos e Sistemas. Este laboratório já viabilizou o desenvolvimento de circuitos integrados mais complexos já projetados por instituições brasileiras, entre os quais se destacam um decodificador de vídeo MPEG4, que pode ser utilizado em TV digital, um decodificador de áudio MP3 e o processador 8051, um dos mais usados pela indústria. O Cetene possui ainda crescente participação em redes cooperativas, em particular as redes do Sistema Brasileiro de Tecnologia – Sibratec, Rede de Laboratórios de Resíduos e Contaminantes – RRC, Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético – Ridesa, entre outras.

Grande desafio em meio a restrições orçamentárias – as que foram vividas em especial na crise econômica dos últimos anos – é a manutenção e ampliação de infraestrutura laboratorial. Que avanços pode destacar e que melhorias poderiam ser alcançadas caso houvesse maior oferta de recursos?

Ao longo dos últimos anos o Cetene deu continuidade à priorização de linhas de pesquisa estratégicas associadas ao desenvolvimento estratégico da região Nordeste, intensificando as iniciativas que estão dando suporte ao Sistema de Atendimento Multiusuário, ampliando em 2018 suas ações voltadas a incentivar e dar suporte a linhas de pesquisa de outros institutos e centros de pesquisa. Dessa forma, continuam sendo priorizadas as ações de Pesquisa e Desenvolvimento resumidas em três categorias: projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação de interesse estratégico institucional; prestação de serviços tecnológicos para os setores econômicos; e atendimentos aos usuários acadêmicos, para o apoio à realização das pesquisas das Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs). Visando a um melhor atendimento a diferentes demandas de análise, o Cetene está implantando em seus laboratórios as diretrizes de qualidade. Esta iniciativa objetiva um melhor gerenciamento da infraestrutura do Cetene para alcançar novas metas de análise prestadas a outras iniciativas de desenvolvimento tecnológico. A Instituição tem 11 laboratórios e duas unidades de produção, organizados em conformidade com padrões de qualidade industrial. A infraestrutura do Cetene atuou em sistema multiusuário em 2018 atendendo aproximadamente 20 mil análises. Este serviço foi realizado na Central Analítica; Laboratório de Fitoquímica e Processos; Laboratório de Bioprocessos; Laboratório Multiusuário de Nanotecnologia; e Laboratório de Microscopia e Microanálise. Num cenário de maior oferta de recursos, as ações do Cetene certamente teriam ganhos efetivos em eficiência e amplitude de atuação, com a aquisição de novos equipamentos, insumos para pesquisa, incremento no número de bolsas e condições para realizar intercâmbios e participação de seu corpo técnico em capacitações e eventos científicos/tecnológicos. Há a expectativa de que, como o governo que ora se inicia, as unidades de pesquisa do MCTIC emerjam de um período duradouro de fortes restrições e recebam uma atenção mais robusta de suas demandas históricas, especialmente quanto a concursos públicos para fortalecer seus quadros, investimentos em projetos de desenvolvimento tecnológico e formação de recursos humanos voltados aos novos desafios da ciência.

Em uma perspectiva geral, que avaliação a sra. faz da gestão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações que se encerrou em dezembro de 2018? E como qualifica, de uma forma mais específica, o papel do ministro Gilberto Kassab?

Reconhecemos os esforços do ministro Gilberto Kassab em aumentar o orçamento do MCTIC, bem como suas ações na melhoria da eficiência dos processos governamentais e implementação de políticas públicas, apesar do cenário de contenção de despesas e restrições orçamentárias. Notável avanço se verificou na articulação do MCTIC com os diversos atores do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, além da interlocução entre as unidades de pesquisa do próprio Ministério. Importantes editais foram lançados, financiamentos foram retomados e os repasses aos institutos ganharam melhor regularidade. Percebemos que o saldo da gestão do ministro Kassab à frente do MCTIC foi positivo, com importantes avanços para a ciência e a tecnologia no País.

Uma estratégia adotada pela gestão do Ministério foi o fortalecimento da relação do Ministério com as entidades por meio da Diretoria de Organizações Sociais e Institutos de Pesquisa, a DPO. Como avalia essa estratégia?

Certamente foi uma estratégia exitosa, que trouxe mais alinhamento e proximidade entre as unidades de pesquisa e a administração central do MCTIC, por meio da DPO. Ressaltamos a estreita relação mantida nos últimos anos com esta Diretoria, que sempre dedicou atenção especial às demandas do Cetene. Um dos marcos dessa produtiva interação, por exemplo, foi a oficina de planejamento estratégico realizada no Cetene com a visita de técnicos do MCTIC. Reconhecemos e agradecemos aos gestores da DPO pelo esforço em assistir ao Cetene na sua manutenção e desenvolvimento institucional.

Que avaliação a sra. faz da regulamentação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, resultado de trabalho desenvolvido pelo Ministério com o sistema nacional de Ciência e Tecnologia, concluído em 2018, e em que medida esse instrumento legal pode aperfeiçoar pesquisas científicas e o desenvolvimento tecnológico?

A publicação do Decreto 9.283/2018, que regulamentou o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, trouxe segurança jurídica para que atores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia possam investir em inovação. A regulamentação definiu regras claras sobre o papel dos atores envolvidos no desenvolvimento da inovação e garantiu isonomia nas relações entre as instituições de ciência e tecnologia (ICTs) e o setor produtivo. Dessa maneira, haverá maior estímulo às atividades inovativas. O Marco Legal caminha na direção de aproximar empresas e ICTs, principalmente as ICTs públicas. Isso é fundamental para dar isonomia a esses entes e ampliar a isonomia entre eles.

FacebookWhatsAppTwitter

  0 Comentários

FacebookWhatsAppTwitter