Prisões e crime organizado são temas de debate no Espaço Democrático

Irão participar do evento dois conhecidos especialistas no tema: o cientista político Leandro Piquet Carneiro e a socióloga Camila Dias, autora livro “PCC - Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência”.

06/11/2013

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Leandro Piquet Carneiro, cientista político

Com transmissão em tempo real pela internet, o Espaço Democrático – fundação do PSD para estudos e formação política – realiza na próxima segunda-feira, dia 11, às 19 horas, debate sobre os problemas do sistema penitenciário brasileiro e as dificuldades para o combate ao crime organizado. Filiados e militantes de todo o País podem participar, por meio do site www.psd.org.br, enviando perguntas e sugestões aos debatedores.

Desta vez, os participantes serão dois conhecidos especialistas no tema: o cientista político Leandro Piquet Carneiro e a socióloga Camila Dias, autora livro “PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência” (Editora Saraiva, 415 páginas), no qual diz que o governo de São Paulo vem sendo derrotado pelo crime organizado.

Ela defende a tese de que, “consolidado depois de 20 anos de atuação, o PCC domina as prisões como força paralela ao Estado, controla a economia subterrânea alimentada pelo tráfico de drogas e está se expandindo para outras regiões do País”.

Camila afirma que “nada acontece nas prisões paulistas que não passe pela intermediação do PCC”. Para o livro, ela entrevistou 32 detentos e ouviu dezenas de funcionários e dirigentes do sistema prisional paulista. A socióloga, que é professora da Universidade Federal do ABC e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, situa a trajetória da organização em três fases distintas para se firmar como contraponto à política prisional paulista e força econômica organizada a partir das atividades criminosas.

A socióloga Camila Caldeira Nunes Dias

No período inicial, de1993 a2001, o PCC, segundo ela, esteve voltado para os problemas carcerários, transformou as prisões numa espécie de QG do crime, promovendo a onda de violência, com rebeliões e mortes. A segunda fase teria ocorrido entre 2001 e 2006 e foi marcada por ações de impacto, que chamaram a atenção para a existência da organização. Por fim, a consolidação teria ocorrido entre 2006 e 2013, com o controle efetivo das prisões e sua expansão para fora dos muros do sistema prisional, com penetração na economia informal da cidade através de atividades criminosas.

Mito e desinformação

Por sua vez, o outro debatedor convidado para o encontro promovido pelo Espaço Democrático, Leandro Piquet Carneiro, tem opinião crítica em relação a grande parte das informações veiculadas sobre a questão do crime organizado.

Para ele, que é cientista político, professor da USP e coordenador do programa de pesquisa em segurança e criminalidade do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas, o debate sobre a luta contra a criminalidade está hoje, no Brasil, contaminado por mitos difundidos por especialistas. “Na verdade, a maioria dos que militam na área usam o tema como uma plataforma para divulgar suas convicções anticontrole social e em prol dos Direitos Humanos. O principal resultado desse ‘progressivismo’ acadêmico é, paradoxalmente, o aumento da desinformação do público”, diz ele.

Piquet cita como exemplo a redução das taxas de homicídio. Para ele, é evidente o papel que desempenharam nesse processo as políticas de segurança, o aumento do encarceramento e a aprovação pelo Congresso Nacional de penas mais duras contra o porte de armas e o tráfico de drogas, mas “uma das interpretações sobre a queda dos homicídios, com grande destaque na imprensa, é a de que o PCC foi um fator importante, se não o mais importante, para a redução do índice”, lembra.

Não é absurdo supor – prossegue – “que a forma como PCC se organiza como operador de negócios ilícitos pode ter um efeito sobre o número de homicídios. Mas para fazer uma afirmação dessa natureza seria necessário dispor de um volume razoável de evidências sobre a atuação do PCC, não apenas nos presídios, mas na sociedade. E até onde alcança minha visão, não dispomos de tais informações”, diz ele.

Em sua opinião, “toda a complexidade institucional e demográfica envolvida no processo de redução do número de homicídios, que salvou milhares de vidas de jovens nas áreas mais pobres, é apenas um detalhe para o sociólogo qualitativo que, depois de dois meses de entrevista com uma dezena de moradores de uma favela qualquer, conclui que o PCC foi o principal fator responsável pela redução”.

Ao fazer esse tipo de afirmação, conclui Piquet Carneiro, “o especialista não só contribui para a desinformação do público como mostra preconceito contra o trabalho das instituições de segurança pública e da Justiça. Se nada foi feito de relevante pelas instituições públicas, nada precisa ser preservado, aprimorado e reproduzido. Esse é um mito que tem um custo pesado para a sociedade”.

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