CONGRESSO

Marcelo Ramos protesta contra destituição na Câmara

Deputado do PSD do Amazonas foi afastado da primeira vice-presidência da Casa por críticas ao governo federal. “Decisão política perigosa porque atenta contra a liberdade e autonomia do Legislativo”

24/05/2022

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O deputado Marcelo Ramos perdeu o posto porque trocou o PL pelo PSD, justamente por discordar do apoio ao atual presidente Jair Bolsonaro

 

Redação Scriptum

 

O deputado federal Marcelo Ramos, do PSD do Amazonas, protestou nesta segunda-feira (23) contra a decisão da Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara de destituí-lo do cargo de primeiro vice-presidente da Casa. Crítico do governo federal, Ramos perdeu o posto porque trocou o PL, partido pelo qual foi eleito para a cadeira, pelo PSD, justamente por discordar do apoio ao atual mandatário do país.

Nesta quarta-feira (25), a Câmara deve eleger um novo parlamentar para o cargo. A mudança ocorreu após o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral, revogar liminar pedida por Marcelo Ramos para permanecer no cargo. Em decisão divulgada na segunda-feira, o magistrado afirma que a escolha dos cargos da Mesa Diretora é um assunto interno da respectiva Casa Legislativa.

Em discurso no plenário da Câmara, o parlamentar amazonense destacou: “Quero de pronto dizer que respeito e cumpro a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que não julgou o mérito, mas a incompetência do TSE”. Contudo, Matos criticou a decisão da mesa diretora da Câmara. “Essa não é uma decisão regimental ou jurídica, é uma decisão política. E uma decisão política perigosa porque atenta contra a liberdade e autonomia deste Poder. Quando o Executivo ataca a democracia é perigoso. Quando o Legislativo se consorcia com o Executivo para atacá-la é mortal!”.

Veja a seguir a íntegra do discurso de Marcelo Ramos:

“Os ideais e a honra de um homem não cabem em cargos. Aprendi a não me deixar mover por vaidade. Aprendi a me mover pelo que acredito, pela luta por justiça e por Democracia.

Essa não é uma decisão regimental ou jurídica é uma decisão política. É uma decisão política perigosa porque atenta contra a liberdade e autonomia deste Poder. Quando o Executivo ataca a democracia é perigoso. Quando o Legislativo se consorcia com o Executivo para atacá-la é mortal!

Quero de pronto dizer que respeito e cumpro a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, que não julgou o mérito, mas a incompetência do TSE. Eu sou um democrata e jurei a Constituição, defendo as decisões judiciais até quando discordo delas, isso é expressão do meu compromisso com o Estado Democrático de Direito e com o STF como palavra final sobre a Constituição.

Este país não foi feito por quem tomou atalhos. Ulisses Guimarães não tomou atalhos, preferiu encarar o duro o percurso, o tortuoso percurso da Democracia. É a esse tipo de brasileiro que eu me junto.

Em provérbios 4: 25-27, a Palavra de Deus nos diz: Olhe sempre para a frente, mantenha o olhar fixo no que está adiante de você. Veja bem por onde anda, e os seus passos serão seguros. Não se desvie nem para a direita nem para a esquerda; afaste os seus pés da maldade.

Afaste os seus pés da maldade. Siga o caminho do bem.

O que move a minha vida nunca foi a vaidade de cargos ou bajulações, o que move minha vida é tudo o que muda a vida das pessoas. Sou um cara simples que construiu tudo na vida com estudo, trabalho e amor pelas pessoas. Que acredito no Brasil, acredito nas pessoas, tenho esperança de um futuro melhor, acredito nas causas pelas quais luto.

Eu tive que tomar uma decisão. Uma decisão que definirá quem eu sou. Aceitar o silêncio em relação aos ataques do presidente Bolsonaro a ZFM e ao meu Amazonas em troca de me manter na vice-presidência.

Eu decidi! Meu lado é lado do povo do Amazonas!

Meus colegas deputados e deputadas, eu tenho um dever com o Brasil, com o Amazonas e com esse Poder, esse dever me exige mais responsabilidade.

Esse dever não me permite ser agente de uma fragilização ainda maior da nossa Casa. É preciso preservar nossa dignidade democrática.

Há um outro aspecto que me exige moderação e responsabilidade. Como explicar que gasto minha energia parlamentar brigando por um cargo para um dos 19 milhões de brasileiros que passam fome, para o pai de uma das 5 milhões de crianças brasileiras que acordam todos os dias sem ter o que comer, para um dos 12 milhões de desempregados. Como explicar que enquanto o governo Bolsonaro perde o controle da inflação e tira o direito do brasileiro de comer, de comprar a botija de gás, de pagar a conta de energia, eu brigo por um cargo? Como explicar a um operário do PIM que ao invés de gastar energia lutando por ele, pela família deles, pelos filhos dele, estou brigando por cargo?

Iniciei esse discurso falando de decisões. No final de 2020, eu fui chamado a tomar uma decisão. Muitos colegas pediam que eu fosse candidato a presidente da Casa, preferi, no entanto, atender ao apelo do presidente Arthur Lira e apoiá-lo.

Creio que construímos uma boa relação desde então. Em substituição ao presidente, fiei-me às decisões do presidente Arthur e dos líderes. E disso jamais me afastei. O presidente Lira e todos são testemunhas disso.

Como presidente da mesa, nunca pus minhas convicções pessoais acima das do colegiado. Cumpri os acordos feitos, mesmo que deles discordasse.

Nunca me confundi com a cadeira de vice-presidente. Não fui escolhido pelo povo do Amazonas para ser vice-presidente. Fui escolhido para defender os interesses do meu Amazonas. Toda glória é efêmera e, na vida pública, o essencial não são as pompas, mas o que deixamos como legado.

Fui eleito para contribuir com o Amazonas e com meu país. Creio que estou no caminho certo. Fui eleito com 396 votos para a vice-presidência da Câmara para ouvir e dar espaço a cada um dos deputados e assim o fiz tratando todos com o respeito e gentileza que merecem. Todos. Até os meus mais radicais críticos sempre foram tratados com respeito e gentileza na condução dos trabalhos ou nos corredores da Casa.

A cadeira de vice-presidente da Câmara é giratória, assim como todas as outras da mesa. Mas tudo tem um ponto de referência. Uma escolha, uma decisão sobre o certo e o errado.

Escolhi cumprir a missão que o povo do Amazonas me deu. Entre o povo do Amazonas e Bolsonaro, entre o povo do Amazonas e a cadeira de vice, sou o povo do Amazonas.

Por fim, quero dizer que não haverá de minha parte agressão ou confronto. Repito, o brasileiro sem comida, sem emprego, que não consegue mais comprar a botija de gás, não consegue mais abastecer o carro, não consegue mais pagar a conta de energia, não merece deputados gastando energia na briga por um cargo.

Minha indignação democrática será exercida com luta pelos ideais da Democracia, com a defesa dos interesses maiores do povo brasileiro e do povo do Amazonas.

Presidente, o senhor não ganha um inimigo. Nem mesmo um adversário. Seguirei respeitando a vontade da maioria dos colegas que o legitimam como presidente da Casa. O senhor sempre teve na mesa alguém disposto a ajudar o Brasil e o senhor seguirá tendo aqui embaixo no plenário, de onde eu nunca saí, um deputado para ajudar o Brasil mas um deputado independente e que não se dobra a caprichos de ninguém.

Posso sair da vice de cabeça erguida, mas não poderia ficar de cabeça erguida se me submetesse a trair a confiança do meu povo do Amazonas para me manter no cargo. Agradeço a solidariedade e o carinho de deputados, deputadas, dos servidores da casa e reafirmo meu compromisso de seguir lutando pelas boas causas do Brasil e do Amazonas.

Eu desço dessa tribuna agora também de cabeça erguida e esse assunto pra mim é página virada. Alguns me perguntam o que sinto por ter sido afastado da vice. Respondo: ORGULHO! Que outro sentimento poderia ter um homem que perde um cargo por não trair seus ideais e seu povo? Tudo resolvido! O presidente Bolsonaro fica com a cadeira de vice-presidente da Câmara e eu fico com a minha consciência, os meus ideais, a minha dignidade e o meu compromisso com o povo brasileiro e o povo do Amazonas.”

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