MUNICÍPIOS

Marquinhos Trad: ‘lockdown não é a melhor solução contra a covid-19’

Para o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, se a população colaborar e as empresas seguirem as regras de distanciamento social, é possível não adotar o fechamento total dos serviços não essenciais

02/07/2020

FacebookWhatsAppTwitter

O prefeito Marquinhos Trad: “Estamos num momento de aprendizado em todos os setores da vida.”

 

Se a população colaborar e os estabelecimentos seguirem as regras de distanciamento social, é possível evitar medidas radicais como o lockdown para impedir a propagação do coronavírus. A opinião é do prefeito de Campo Grande (MS), Marquinhos Trad (PSD), e baseia-se em sua experiência na gestão da crise sanitária na capital do Mato Grosso do Sul.

Em entrevista por telefone ao jornal Midiamax, Trad lembrou que sua cidade superou recentemente um período de 15 dias de lockdown no qual até os ônibus ficaram restritos. No entanto, ressalvou, o lockdown é menos eficaz do que se pensa, ao menos em Campo Grande. O prefeito aponta que a violação das regras sanitárias, como uso de máscaras e distanciamento social, é mais comum durante os períodos com maior restrição.

O prefeito citou os números favoráveis da capital sul-mato-grossense, onde, apesar dos óbitos – 10 registrados até quarta-feira (1) – a taxa de letalidade da covid-19 é extremamente baixa comparada a outras cidades de MS.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Midiamax – Prefeito, superamos 100 dias de medidas restritivas em Campo Grande devido ao novo coronavírus e entramos no quarto mês com os indicadores mais favoráveis entre as capitais brasileiras. O senhor está satisfeito com esse resultado?

Marquinhos TradGostaria que não precisássemos estar enfrentando isso, mas na realidade esses números “menos desfavoráveis” são reflexo da nossa ação precoce. Não esperamos piorar para agir. Estamos num momento de aprendizado em todos os setores da vida. Não só na saúde pública, mas na economia, educação escolar, no lazer, no autocuidado. Há uma grande mudança. Mas posso destacar que, no primeiro caso confirmado na cidade, adotamos lockdown de 15 dias, com muitas restrições, e nesse tempo criamos o comitê de crise, que pensou em conjunto nas ações. Eu costumo dizer que essa pandemia, desde o início, trouxe uma discussão entre vida e empregos. Evidentemente que optamos pela vida, em primeiro lugar. Mas, também tivemos olhar atento para as empresas vulneráveis em função dessa pandemia, que poderiam até chegar à recuperação judicial.

O senhor considera que a flexibilização, após duas semanas de lockdown, foi acertada?

O que vocês [imprensa] chamam de flexibilização eu chamo de regramento. Como dizia, optamos pela vida. Decretamos lockdown em março, de 15 a 31 daquele mês. Fechamos toda a cidade, terminal rodoviário, escolas, transporte coletivo, lojas, igrejas… E durante o período de fechamento me preparei para três frentes, que permitiram esses números que temos hoje. A primeira foi a ampliação dos leitos existentes na cidade. Se não tivéssemos feito isso, já teríamos colapsado. O segundo ponto foi a ampliação dos profissionais de saúde na linha de frente, forma mais de 300 contratações de março para cá. E o terceiro ponto foi lotar o nosso almoxarifado com EPI (Equipamentos de Proteção Individual) para esses profissionais. Até o momento não deixamos faltas luvas, máscaras ou avental para nenhum deles.

Campo Grande tem apresentado uma adesão muito baixa ao isolamento social e o lockdown tem sido apontado como uma solução a ferro e fogo para fazer as pessoas ficarem em casa. Como o senhor vê essa questão?

Acho que essa baixa adesão está relacionada à nossa cultura. Nosso país não é exemplo de obediência a regras e princípios, a ponto de boa parte do país se regozijar daquele adágio da “Lei de Gerson”, que diz que para tudo se dá um jeitinho. É complicado, porque a fiscalização não está em todo lugar o tempo todo, é preciso ter conscientização da população. Mas manter em casa por lockdown não me pareceu muito eficaz justamente pelo comportamento social. Não adianta fazer lockdown porque isso já não funcionou em várias cidades, inclusive em MS. Se você faz lockdown aqui, as crianças vão pra rua empinar pipa, deixam de usar máscara… Vão para o pula-pula no Mirante do Aeroporto, reúnem-se em cadeiras na calçada e ficam compartilhando tereré. Notamos que o lockdown não é interpretado como um isolamento, então não nos pareceu eficaz. Com o comércio aberto por regramento, há pelo menos um controle no uso da EPI, na higienização…

Com o aumento dos números, a cobrança por lockdown é muito alta?

Sim. Eu sou confrontado com números o tempo todo, mas o que temos aqui são os melhores indicadores do país. Lamentamos ter 10 mortes pelo coronavírus, mas já compararam com outras capitais? Não é uma competição, mas esse número baixo, por mais lamentável que seja, é reflexo de algo. Sabe qual é a taxa de letalidade da covid-19 em Campo Grande? É 0,4%. Sabe quanto é em Dourados? É 3,6%. Em Corumbá é 3%. Nós temos registro de 2.491 casos em Campo Grande, mas são 1.538 recuperados, menos de mil casos ativos. Quem vem a Campo Grande, inclusive da imprensa nacional, descreve a cidade como um paraíso frente ao que está acontecendo no país. Será que estamos tão errados assim? Como não reconhecer que estamos no caminho certo?

Há algumas situações que causam muito transtorno aos campo-grandenses, como no transporte público. Há muitas denúncias e relatos de violação dos decretos municipais e…

Olha, essa questão da fiscalização não deveria nem existir. Num mundo ideal, o poder público estaria lidando com outras questões que não fosse fiscalizar adultos. Sabemos dessas questões. Elas não ocorrem só nos ônibus. São as pessoas que não usam máscaras, as pessoas que dirigem mexendo no celular, sem cinto de segurança. É como eu falei há pouco, há uma cultura da violação de regras por aqui. O motorista embarca o passageiro, mas lá dentro ele tira a máscara. Por que o usuário não pode colaborar? A fiscalização atua, temos fiscalizamos o uso de máscaras nos coletivos, temos fiscalizamos a superlotação. Temos interditado estabelecimentos que fazem festas, vocês veem isso tudo. Mas me impressiona é que as pessoas cometem essas infrações mesmo sabendo que não devem, que há regras.

FacebookWhatsAppTwitter

  0 Comentários

FacebookWhatsAppTwitter