O Brasil precisa dominar todas as tecnologias que sejam essenciais para o desenvolvimento estratégico do País porque, no século 21, não há crescimento econômico que seja tecnicamente soberano. O alerta foi feito pelo físico Ricardo Galvão, professor da Universidade de São Paulo e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) na mais recente edição do programa “Diálogos no Espaço Democrático”, produzido pela fundação do PSD e já disponível em seu canal no Youtube. Ele citou como o caso mais emblemático desta ideia a do monitoramento da Amazônia. “É feito com satélites nacionais: sabemos como fazê-los e os sistemas são nossos”, aponta.
Durante gravação do programa, Galvão revelou que deverá ser anunciado ainda esta semana como um dos dez cientistas do ano de 2019 pela revista britânica “Nature”. Editada desde o século 19, a publicação é referência mundial para pesquisas científicas e anuncia todo ano sua lista de principais pesquisadores.
No programa, Galvão criticou os grupos obscurantistas ou negacionistas, que contestam o aquecimento global, e ressaltou a importância do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, entre outros temas levantados pelos consultores do Espaço Democrático que o entrevistaram.
Galvão foi nomeado para a diretoria do INPE pelo ex-ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, presidente do PSD. O nome do físico chegou à mesa do ministro após um comitê de buscas ser acionado para determinar a ocupação do cargo.
Segundo Kassab, o cientista “conduziu com coragem e competência” os trabalhos no INPE. “Este órgão tem uma função muito importante para o País no desenvolvimento do setor espacial e também nas questões relativas à sustentabilidade, por meio do monitoramento de áreas desmatadas”, disse. “O Ricardo Galvão é um dos principais cientistas do Brasil e quando fizemos a indicação do nome à diretoria do INPE, tínhamos a convicção de ser alguém de muito relevo”, completou.
Ele ocupou a diretoria do instituto, sediado em São José dos Campos, no interior de São Paulo, entre 2016 e agosto deste ano, quando foi destituído do cargo por decisão do Governo Federal. Seu mandato terminaria no próximo ano.
Em julho, o INPE divulgou dados que demonstraram aumento em áreas desmatadas no País e o trabalho de monitoramento efetuado pelo órgão foi questionado pela presidência da República e pelo Ministério do Meio Ambiente. Na ocasião, o físico foi defendido pela comunidade científica de acusações de “estar a serviço de ONGs”.
Galvão afirmou em entrevistas à imprensa que os dados, estruturados nos sistemas Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) e Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), são aferidos pela Nasa e têm margem de acerto de 95%.
Na última sexta-feira (13), o INPE – agora dirigido pelo coronel Darcton Policarpo Damião – divulgou dados do Deter que apontaram 563 km² de desmatamento no mês de novembro, aumento de 103,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, e recorde na série histórica de medições, iniciada em 2015.
“Nature”
A lista da “Nature” é considerada referencial para identificar cientistas que se destacam a cada ano. Em 2016, foi mencionada entre os dez nomes do ano Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas da Fiocruz. A médica recebeu o reconhecimento por suas pesquisas que relacionaram a microcefalia ao vírus da Zika.