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BALANÇO

Pesquisa garante liderança do Brasil em bioenergia

Em entrevista, dirigente de laboratório que estuda soluções para produção de etanol comenta os resultados obtidos e o esforço da gestão de Gilberto Kassab no MCTIC para apoiar instituições da área

28 de fev de 2019

O diretor do CTBE, Eduardo do Couto e Silva

Edição: Scriptum

A pesquisa e inovação de alta complexidade na produção de energia, sobretudo a partir do etanol de cana-de-açúcar, é o foco do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), unidade localizada em Campinas, no interior do Estado de São Paulo, que compõe o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). E a responsabilidade do órgão é grande, pois o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo (perde para os EUA) e produz mais de 630 milhões de toneladas de cana. A manutenção desses resultados exige pesquisa de ponta, inclusive porque o etanol é parte importante da matriz energética do País.

Em balanço sobre o desempenho do laboratório nos últimos anos, o diretor do CTBE, Eduardo do Couto e Silva, comenta sobre o papel da instituição e sua relação com o Ministério e o sistema nacional de Ciência e Tecnologia, destacando que, apesar das restrições orçamentárias vividas pelo País, a gestão do ministro Gilberto Kassab à frente do MCTIC teve grande empenho em apoiar as instituições de pesquisa.

Veja a entrevista a seguir:

Como se dá hoje a integração do CTBE com o sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação?

O etanol brasileiro é uma conquista de várias décadas e o CTBE tem ocupado papel relevante para o setor sucroenergético desde a sua criação. Ao longo de 2018 o CTBE passou por uma restruturação e tem buscado aprofundar o conhecimento científico e realizar projetos que o aproximem também do setor de biotecnologia industrial e das instituições de pesquisa que atuam em biotecnologia e biologia de sistemas. O CTBE é norteado pelo conceito de economia circular, que agrega valor aos resíduos agroindustriais e reconhece o importante papel do agronegócio para a economia do País. O CTBE está buscando aumentar a sua atuação, em parceria com atores relevantes, em uma agenda estratégica para o Brasil que usa a biodiversidade, a biomassa e a biotecnologia para produção de biocombustíveis avançados, bioquímicos e biomateriais.

Como avalia a gestão do MCTIC encerrada em dezembro de 2018, no que se refere ao enfrentamento das restrições orçamentárias e à relação com entidades vinculadas e institutos de pesquisa?

Os últimos anos foram difíceis para o Brasil em função da crise econômica que temos vivido, mas o País é resiliente e detentor de riquezas e acredito que o investimento em ciência e tecnologia é primordial para que se melhore a qualidade vida dos brasileiros e para que o País alcance posição de destaque no cenário internacional. Houve grande empenho do MCTIC em apoiar as instituições de pesquisa, apesar das restrições orçamentárias.

Como o sr. avalia o impacto do acelerador de partículas Sirius, em processo de conclusão – e já com sua primeira fase entregue em novembro de 2018 – para a ciência brasileira? De que maneira pode contribuir com pesquisas voltadas a bioenergia e linhas de pesquisa voltadas a combustíveis?

Atualmente importa-se grande parte das enzimas industriais responsáveis pela catálise de reações importantes em processos biotecnológicos usados para produção de biocombustíveis, bioquímicos e biomateriais. O Sirius nos oferece uma oportunidade científica única de entender em nível atômico e molecular o mecanismo de atuação dessas enzimas. Com isso esperamos também desenvolver tecnologias brasileiras para aplicações industriais.

Em relação ao Sirius, como o sr. vê o encaminhamento dado pela gestão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações encerrada em dezembro de 2018 com vistas à entrega do acelerador de partículas?

Como mencionei anteriormente, houve grande empenho do MCTIC em apoiar as instituições de pesquisa apesar das restrições orçamentárias e o Sirius deu um passo importante com a inauguração da sua primeira fase no final de 2018.

Como o sr. situa hoje a discussão sobre bioenergia, combustíveis derivados de etanol por exemplo, frente à realidade do mercado e a demanda por combustíveis fósseis?

Espera-se uma demanda crescente para o etanol brasileiro, motivada pela nova leis de incentivo à economia de baixo carbono como o RenovaBio e também por potenciais demandas externas por biocombustíveis avançados, principalmente da Europa e da Ásia. Ainda há um caminho longo a percorrer para estabelecer rotas sustentáveis na substituição dos combustíveis fosseis e seus derivados e no fortalecimento da cadeia de produção de biorenováveis. Há também um potencial inexplorado na produção de eletricidade a partir da biomassa, isto é, palha e bagaço da cana-de-açúcar, que aliás é uma das melhores plataformas energéticas que existem. O Brasil tem um papel de liderança em bioenergia e é importante que as instituições de pesquisa, o setor sucroenergético e setor de biotecnologia continuem a se desenvolver e recebam incentivo de políticas públicas.

Investimento em inovação é creditado como ferramenta primordial de desenvolvimento econômico. Como avalia que pode ser amplificada a conscientização da sociedade e de agentes políticos nesse sentido?

A palavra inovação é utilizada de uma maneira por vezes trivial, mas abarca grande complexidade. Inovação exige atores qualificados com boa interlocução, financiamento adequado e um trabalho contínuo e de longo prazo. Conscientizar a sociedade e os agentes políticos não é simples, porque os resultados são colhidos em prazos longos. Todavia é fundamental manter diálogos não só por meio de eventos específicos de divulgação, mas pela atuação da mídia, que tem um papel importante na comunicação do valor da inovação. Uma possibilidade seria divulgar exemplos de inovações tecnológicas que tem melhorado o dia a dia das pessoas, para que paulatinamente se compreenda o papel do desenvolvimento da ciência e tecnologia e a importância da sua transferência para a sociedade.

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