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A cidade que Kassab entrega aos paulistanos

Revista Veja SP faz radiografia da gestão do prefeito e presidente do PSD, citando os avanços em áreas importantes.

01 de out de 2012 · Kassab, prefeito, PSD, Veja São Paulo

Maurício Xavier, Veja São Paulo

No dia 31 de março de 2006, Gilberto Kassab assumiu a prefeitura de São Paulo como um desconhecido para a maioria dos paulistanos. Podia andar na Avenida Paulista sem ser incomodado. Vice em 2004, herdou o cargo quando o então prefeito, José Serra, se candidatou ao governo do estado. À sombra política do tucano, no começo do mandato o engenheiro civil e economista de esbugalhados olhos azuis,1,83 metro, em luta permanente com a balança e com uma vida pessoal discreta decidiu manter projetos e boa parte da equipe de Serra. Sua gestão ganhou luz própria e reconhecimento popular quando emplacou, em 2007, uma lei corajosa que iria revolucionar a paisagem da cidade. Com o objetivo de reduzir a poluição visual, a Lei Cidade Limpa baniu os outdoors e painéis das ruas, além de estabelecer regras duras para letreiros de estabelecimentos comerciais.

Empresários e publicitários tentaram derrubar a medida, sem êxito. Em seis anos, 3,4 milhões de anúncios e placas foram retirados e 216 milhões de reais arrecadados em multas. A iniciativa mereceu destaque até no jornal The New York Times e, recentemente, recebeu um prêmio na Alemanha. Lei na qual quase ninguém botava fé, ela pegou — e se refletiu imediatamente na avaliação positiva do prefeito, que registrou inéditos 61% de aprovação em outubro de 2008, pico máximo se comparado ao índice dos prefeitos que comandaram São Paulo nos últimos 25 anos. A melhor avaliação de Jânio Quadros foi 40%; Luiza Erundina obteve 32%; Paulo Maluf, 58%; Celso Pitta, 24%; Marta Suplicy, 49%; e José Serra, 56%. A Lei Cidade Limpa ajudou a garantir sua reeleição. Kassab conquistou o segundo mandato ao vencer Marta Suplicy no segundo turno com expressivos 3,7 milhões de votos (60,7%).

A lua de mel com os moradores da maior metrópole da América do Sul não sobreviveu à segunda gestão. Seus índices de aprovação começaram a cair com as chuvas de verão e os alagamentosem bairros da Zona Leste.Os problemas com a limpeza urbana agravaram a situação, assim como três medidas que mexeram diretamente no bolso do contribuinte: reajuste na tarifa de ônibus, aumento do IPTU e cancelamento da devolução da taxa de inspeção veicular. Prestes a concluir sua longa gestão na prefeitura, com quase sete anos consecutivos, Kassab mantém a conhecida frieza de jogador de xadrez, um de seus passatempos prediletos. “Não posso me preocupar com a aprovação popular, tenho de fazer o que é correto”, afirma. “O tempo dirá que fui um bom prefeito.”

Existem diversas maneiras de avaliar o desempenho de um gestor municipal: indicadores em diferentes áreas, saúde financeira dos cofres públicos, visão de futuro e opinião pública, entre outras. “Nos três primeiros tópicos, Kassab apresentou resultados melhores que seus antecessores: foi uma gestão com avanços em vários setores cruciais, como saúde e educação”, analisa o cientista político Rubens Figueiredo, do instituto Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac). “Mas há uma defasagem entre o que ele realizou e a imagem que está deixando.” Parte disso se deve ao pragmatismo do prefeito e ao seu apetite político.

A criação do Partido Social Democrático (PSD), o partido “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”, de um lado contribuiu para transformá-lo em um ator de peso no cenário nacional. De outro, porém, distanciou-o de boa parte dos moradores de São Paulo, que vê o prefeito, qualquer prefeito, antes de tudo como um síndico, um burgomestre, um administrador, enfim, aquele que resolve os problemas cotidianos da cidade. Ficou a impressão, para muitos, de que teria trocado essas atribuições pelos seus planos de vir a se candidatar a postos mais altos. “Como o prefeito está mais próximo à população, a avaliação negativa também chega mais rápido”, diz Vera Lucia Chaia, professora do Departamento de Política da PUC. “Nunca abandonei São Paulo”, afirma Kassab. “É só olhar minha agenda pública. Tenho compromissos todos os dias e depois fico despachando no meu gabinete.”

São Paulo foi a primeira cidade do país a implantar, por lei, o Plano de Metas e Kassab é o primeiro prefeito a ter o mandato avaliado por essa métrica. Ele ainda criou um site para o acompanhamento público das obras e projetos. Com isso, passou a ser muito mais cobrado. A três meses do fim de seu mandato, cumpriu 93 dos 223 objetivos estabelecidos, o que representa 42% do total. Entre as realizações estão a construção de ambulatórios de especialidades, as AMAs, o investimento no Metrô e a restauração do Teatro Municipal e da Biblioteca Mário de Andrade (os pontos fortes e os pontos fracos da gestão aparecem abaixo). A prefeitura, no entanto, utiliza outro cálculo, que leva em conta o estágio das metas que ainda não foram totalmente alcançadas — estas, 53 já estariam beneficiando a população. Por esse critério, o índice de eficiência seria de 76%, segundo o secretário de Planejamento, Rubens Chammas. O aperto financeiro também ampliou as dificuldades para implementar novos projetos. Em 2007, dos 15,7 bilhões de reais do orçamento do Tesouro municipal (sem considerar outras fontes, como transferências estaduais e federais), 15% foram utilizados para o pagamento de dívidas, enquanto 9% se destinaram a investimentos na cidade. No ano passado, as dívidas abocanharam 17% do orçamento de 22,9 bilhões de reais, restando menos de 5% para investimentos. “Queria ter realizado mais em São Paulo, mas entreguei o que foi possível com os recursos disponíveis”, conclui Kassab, que promete dar aulas de planejamento urbano aos alunos da Faap e da Poli-USP em 2013.

Leia mais: Veja SP analisa programas, obras e serviços da gestão Kassab

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