Censo realizado em outubro de 2022 indicou a existência de 5.344 pessoas em situação de rua na capital mineira
Edição Scriptum com jornal O Tempo
A gestão do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), planeja uma ampliação dos esforços focados em saúde, moradia e geração de renda para a população em situação de rua. A informação consta de reportagem publicada pelo jornal O Tempo, da capital mineira, na qual se explica que a proposta integra o projeto de requalificação urbana do centro da cidade – Centro de Todo Mundo –, proposto pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em março e já em andamento com algumas obras e manutenção.
De acordo com o jornal mineiro, o Censo Pop de Rua, realizado pela PBH e pela UFMG em outubro de 2022, indicou 5.344 pessoas em situação de rua. A grande maioria é formada por homens (84%) com média de idade de 42,5 anos; as mulheres representam 16%, com idade média de 38,9 anos. São pardos ou pretos 82,6% dos que estavam nas ruas. A pesquisa foi feita nas nove administrações regionais.
De acordo com a Prefeitura, o Censo Pop de Rua BH 2022 mostrou que sair das ruas é o desejo de 91,4% dos que hoje vivem essa realidade, mas 55,3% esbarram na falta de moradia e 55% na falta de acesso a um trabalho assalariado. Para 27%, ser beneficiário de programas de renda seria uma forma de deixar as ruas, enquanto 17% acreditam que poderiam ter vida nova com educação ou formação profissional e 14,8% a partir de mais cuidados com a saúde.
Projeto Centro
Para acolher essas pessoas e tentar mudar a realidade, o projeto Centro de Todo Mundo prevê ações e planos de moradia para essa parcela de cidadãos. Uma delas é a capacitação profissional para quem já frequenta os abrigos municipais há pelo menos seis meses.
“São pessoas que já estão num processo de querer sair das ruas, mais acostumadas a horários e rotinas. Estão sendo criadas atividades profissionais dentro da própria PBH, com bolsa de R$ 540 mensais, por quatro horas diárias”, disse a O Tempo a subsecretária de Relações Intergovernamentais da Secretaria de Governo da PBH, Beatriz Góes.
Uma organização da sociedade civil já atendeu ao chamado público e fará a gestão do projeto. “Falta buscar parceria com empresas e entidades para encaminhamento futuro dessas pessoas”, comenta.
Na visão do urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFMG Rogério Zschaber, também ouvido pelo jornal, há um empobrecimento geral da população brasileira nos últimos anos, e esse retrato é visto nas ruas. “Acho que nosso centro está pior, ambientalmente degradado e malcuidado. Hoje não é mais o cara isolado, vítima de sofrimento mental, que vive nas ruas. São famílias inteiras despejadas, que passam a ocupar o centro e os bairros. Em 2007, o projeto Centro Vivo requalificou espaços hoje já degradados. Então é preciso olhar para essas pessoas com projetos eficazes e também fazer manutenção regular dos espaços públicos”, avalia.
Van itinerante
O quesito saúde com foco na população de rua é hoje contemplado via centros de saúde e os Centros Pop, que oferecem atendimento durante o dia como centros de apoio e vai ser ampliado via atendimento da Van Consultório, projeto itinerante que atua nas nove regionais da cidade.
A ideia é intensificar a presença da van, que já circula por áreas onde há maior concentração de pessoas em situação de rua, levando equipe de saúde completa para fazer testes rápidos de HIV, sífilis, tuberculose, Covid, e atualizar o cartão de vacinação.
“A PBH mantém várias portas de entrada para as pessoas em situação de rua: os restaurantes populares, todos os centros de saúde do município, os três Centros POP, a Van Consultório, os Cersams e demais equipamentos públicos. O problema é que muitos não vão até os locais. Intensificar esse projeto via a van itinerante vai ser importante para ampliar o atendimento”, contou Beatriz Góes.
Inclusão de idosos
A prefeitura pensa em criar, ainda, uma residência inclusiva para pessoas em situação de rua acima de 60 anos, com 30 vagas; uma casa de passagem para acolher até 30 famílias; e dois novos abrigos, com 50 vagas cada, serão criados. Além disso, a prefeitura tem um projeto de locação social, para alocar as pessoas que deixam as ruas no período de transição para a moradia fixa. “A pessoa que sair do abrigo poderá morar com aluguel subsidiado pela PBH, com cama, fogão, geladeira. É todo um processo desenhado para favorecer a autonomia dessa pessoa que estava na rua e estará reconstruindo sua vida”, pontua a subsecretária.
Uma outra novidade é tratar os PETs das pessoas que vivem nas ruas. “Nesse acompanhamento, estamos cuidando dos animaizinhos também, já que a maioria das pessoas que moram na rua tem um bicho de estimação e é importante fazer o controle de zoonoses”, enfatiza Beatriz.