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Filiado ao PSD e prestes a se aposentar, Joel Malucelli ensaia estreia nas urnas

Valor Econômico 14/11/2011 – "Se pudesse ser para vice-governador ou governador, eu tentaria", diz um dos empresários mais bem-sucedidos do Paraná.

16 de nov de 2011 · candidato, Joel Malucelli, Parana, PSD

Valor Econômico

Em toda eleição, o nome de Joel Malucelli, um dos empresários mais bem-sucedidos do Paraná, aparece cotado como vice de outro político do Estado, seja para prefeito ou governador. Foi assim nos últimos anos e ele sempre desconversou sobre o assunto. A candidatura nunca saiu enquanto esteve filiado ao PSDB e ao DEM, mas a recente mudança para o PSD e a proximidade de sua aposentadoria do grupo JMalucelli, que possui 66 empresas e deve faturar perto de R$ 2 bilhões em 2011, pode levá-lo a estrear nas urnas, “se houver um convite”. Não em 2012, mas em 2014. “Se pudesse ser para vice-governador ou governador, eu tentaria”, diz ele, que está com 66 anos de idade e planeja desligar-se em dezembro do próximo ano das atividades que mantém no grupo que fundou quando tinha 19.

A política paranaense é recheada por grupos familiares que se revezam no poder. A primeira vez que Malucelli filiou-se a um partido foi a convite de um compadre, o ex-governador José Richa, pai do atual governador, Beto Richa (PSDB). Há quatro anos, ele mudou-se para o DEM a convite do deputado federal e atual presidente do PSD no Paraná, Eduardo Sciarra. “O atrito entre o Beto Richa e o senador Alvaro Dias me desgostou, porque podiam trabalhar juntos”, explica, sobre as disputas protagonizadas pelos dois
tucanos.

Antes de ir para o PSD, novamente levado por Sciarra, Malucelli chegou a analisar outras possibilidades. “Eu até tinha vontade de ir para o PT, mas nunca me convidaram e não sei se iam me receber bem”, diz. Enquanto estava em dúvida, ele foi sondado pelo PCdoB. “Não consegui conciliar o nome de comunista com o de empresário”, conta. Embora cogite
disputar um cargo para o Executivo, o paranaense já sonhou com outras duas funções: ser ministro do Esporte ou presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Currículo tenho pra isso”, garante, lembrando que é atleta, já foi presidente do Coritiba Foot Ball Club, é dono do time Corinthians Paranaense e tem bons relacionamentos na área de futebol. “No governo FHC chegaram a cogitar meu nome para ministro”, afirma.

“Eu até tinha vontade de ir para o PT, mas nunca me convidaram e não sei se iam me receber bem”

Na política, Malucelli não participou ativamente em campanhas ou diretórios. Admite que subiu uma vez em palanque para pedir votos para Beto Richa, quando ele concorreu pela primeira vez para prefeito. Também tem proximidade com o ex-governador e atual senador Roberto Requião (PMDB), porque o sobrinho dele, João Arruda, casou-se com a filha do empresário. No ano passado, o genro, de 35 anos, enfrentou as urnas pela primeira vez e foi eleito deputado federal pelo PMDB. A casa onde Malucelli viveu muitos anos com a família foi usada durante a campanha. “As empresas fizeram doações pequenas. Só banquei meu genro. Trabalhei muito pra ele”, garante, sobre a participação na disputa.

Em conversa com o Valor, Malucelli primeiro descartou uma candidatura. “Não trabalho com esse produto”, brincou, antes de emendar outra fala. “Mas não vou dizer que essa água não beberei.” Depois, contou da aposentadoria, da intenção de cuidar de outros negócios, “talvez no ramo imobiliário” e do processo de sucessão no grupo. Os seis filhos receberam 50% dos bens e os que já trabalham vão assumir em breve outros papéis, em especial no Paraná Banco, na seguradora e na empresa de construção, que são as maiores do conglomerado que reúne ainda hotéis, empresas de comunicação (televisão, rádio e jornal), revendas de equipamentos, fazendas e outros. “Só não tenho pastelaria”, brinca. Das 66 empresas, a família detém o controle em 44.

Sobre as chances nas urnas, o empresário tem dúvidas. Ele fala da necessidade de mudanças na administração pública e da dificuldade que teria para “fazer demagogia”. “Do jeito que está a política, teria chances”, afirma, citando que nos últimos dez anos não foram duplicados 100 quilômetros de estradas no Estado. “O Paraná está estagnado e precisa ser tratado como uma empresa”, recomenda. Questionado se já há alguma negociação em torno de sua candidatura, Malucelli diz que ninguém assumiu compromisso de lançá-lo candidato. Consultado, Sciarra responde que ainda não falaram sobre o assunto, mas afirma que o partido tem nomes para disputar a prefeitura da capital e o governo. Além dele próprio e de Malucelli, outros nomes do partido são o deputado estadual Ney Leprevost e o ex-ministro da Agricultura e atual deputado federal Reinhold Stephanes (ex-PMDB). Segundo Sciarra, a decisão de apoio ou não ao atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), aliado de Richa, vai ser tomada em 2012. “O fato do Joel Malucelli se colocar à disposição é uma grande coisa”, comenta.

Algumas decisões já rondam a mente do empresário. “Eu pagaria minha campanha e não pediria dinheiro pra ninguém. Uma campanha não custa muito para quem não rouba”, afirma. Ele diz que desvincularia o grupo que criou da política e suas empresas só poderiam fazer obras públicas fora do Estado. Também abriria mão de salário e das horas vagas que lhe permitem jogar futebol três vezes por semana, tênis duas vezes por semana,
andar de bicicleta, ir pra academia e viajar com um grupo de amigos para jogar em países europeus – em junho, jogou sete partidas na Itália, Suíça e Alemanha.

E saberia lidar com denúncias na campanha? “Não conheço nenhum podre meu. Vão surgir coisas, mas não tenho medo”, adianta. “Em todas as áreas em que atuo sou bem visto.” Malucelli é formado em economia e sempre gostou de trabalhar com parentes. No grupo trabalham 50, nas principais diretorias, mas também promete mudar isso se for para a vida pública. O mesmo vale para a esposa. “Deixaria minha mulher em casa.”

Em relação ao governo federal, o empresário diz que a presidente Dilma Rousseff tem surpreendido positivamente, mas acrescenta que “falta coragem para grandes reformas”. Ele também conta ter admiração pela ministra Gleisi Hoffmann, uma possível candidata ao governo em 2014 pelo PT. Opina que a redução da taxa Selic tem sido modesta e diz ter orgulho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mesmo sem ser ainda candidato, o empresário já cita as transformações que gostaria de ver acontecer no país. E não tem medo de ser polêmico. Diz que mudaria a Lei Rouanet, de incentivo à cultura, e mandaria os recursos para a saúde. “Hoje ela está deturpada e serve mais para edição de livro sobre borboletas. Isso me revolta.” O empresário também acabaria com as ONGs, preservaria as boas ações de outra forma e proporia o fim do Ecad,
de direitos autorais, porque não concorda com o modelo de atuação. “Por uma boa causa, é preciso brigar”, defende. Ele também critica as leis vigentes de defesa do meio ambiente. “Elas atravancaram o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal]”, afirma. “Impedem a duplicação da BR-116”. Outra declaração surpreendente para alguém que gosta de futebol é a de que o Brasil não deveria sediar a Copa do Mundo. “Os recursos são escassos e estão sendo direcionados para coisas que não são essenciais.”

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