O prefeito Alexandre Kalil anunciou a intenção de comprar 4 milhões de doses para 2 milhões de cidadãos.
A partir de segunda-feira (15) começaram a valer em Belo Horizonte medidas ainda mais rigorosas no enfrentamento da pandemia. As novas restrições foram anunciadas pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) na sexta-feira, uma semana depois de a capital mineira ter adotado o fechamento do comércio, com abertura apenas de serviços essenciais.
Nesta segunda-feira, a Secretaria de Saúde de BH informou que a prefeitura da capital assinou memorando de intenções para iniciar as negociações para a compra da Sputnik V, vacina produzida pelo Centro Gamaleya na Rússia, e, no Brasil, pelo laboratório da União Química, em Guarulhos (SP).
O prefeito Alexandre Kalil anunciou a intenção de comprar 4 milhões de doses para 2 milhões de cidadãos. Em Minas, avançam nas tratativas, além da capital, Betim, Santa Luzia e Pouso Alegre. As prefeituras esperam que as doses cheguem em abril. A secretária pondera, no entanto, que a quantidade disponibilizada dependerá da capacidade de produção e entrega. O valor de cada dose da vacina é de até US$ 10.
Mais rigor
Entre as novas medidas de contenção do coronavírus estão fechamento de parques, praças e locais de caminhada; restaurantes podem vender apenas por delivery, sendo proibida a retirada no local; lojas de conveniência só podem funcionar de segunda a sexta até às 18h e estão suspensos cultos de todas as religiões com templos abertos. Kalil afirmou ainda que a fiscalização será implacável.
Em entrevista coletiva na sexta, Kalil fez um relato dramático da situação. “Não temos mais o que fechar, gente. Só falta fechar supermercado, ninguém comer, fechar farmácia, ninguém mais comprar remédio. Acabou o fechamento, não temos mais o que fechar”, afirmou.
Os três índices de monitoramento que definem as medidas em BH estão no vermelho, o que indica risco. A taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 chegou a 89,4%, a de leitos de enfermaria 75,6% e o número médio de transmissão por infectado, o chamado RT, é de 1,22.
Segundo o secretário municipal de saúde, Jackson Machado, a capital costuma ter média de 29 sepultamentos por dia nos cemitérios municipais, mas na quinta-feira (11), registrou 41 casos, 12 de vítimas da Covid-19.
Um dos infectologistas que fazem parte do comitê que orienta a prefeitura sobre as medidas a serem adotadas, Estevão Urbano, afirma que o cenário é de pré-colapso. “A situação não é grave, ela é gravíssima. As pessoas não sabem o que está acontecendo e o que poderá acontecer nos hospitais. Se não fizermos cada um a sua parte, essa situação será sentida na pele de todos e o serviço colapsará”, afirmou ele.
“O vírus está circulando de forma rápida, é mais agressivo, é mais transmissível e, certamente, pode fazer com que tenhamos esse número de mortes em ascensão no país inteiro. Belo Horizonte não é uma ilha”, diz Carlos Starling, outro infectologista que compõe o comitê.
Home office
Kalil anunciou ainda que a prefeitura irá realizar um estudo dentro dos prédios comerciais da cidade, para mapear escritórios que estão abertos e que poderia estar em trabalho remoto, para entender o impacto no transporte coletivo da cidade. O estudo deve ser concluído dentro de dez dias.
“Não podemos continuar com essa lotação no transporte público, sendo que a cidade está toda fechada. Existe um mistério aí e está nos prédios comerciais, nos serviços que estão sendo prestados e são praticamente invisíveis. É um estudo que demanda tempo, vamos detectar e fechar esses escritórios também”, afirmou ele.
BH segue um protocolo próprio de medidas que orientam a flexibilização de atividades na pandemia, não tendo aderido ao plano criado pelo governo Romeu Zema (Novo), o Minas Consciente. No início do mês, o plano ganhou uma nova fase que impõe medidas de lockdown para regiões em situação crítica, com toque de recolher entre 20h e 5h e funcionamento apenas de atividades essenciais.
Kalil, porém, descartou a possibilidade de toque de recolher na capital. “Se eu fizer isso, além dos turnos de hospitais, eu tiro o essencial, que é farmácia e supermercado, que circula num horário que não tem tráfego. É inócuo, se não tiver uma decisão durante o dia”, avalia.