Henrique Meirelles: ‘Depois do curto prazo’

Após o ajuste fiscal, governo precisa sinalizar com políticas pró-crescimento para estimular investimentos em produtividade e na produção. "Precisamos de regras positivas e duradouras", diz, em artigo, o ex-presidente do BC.

29/06/2015

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“Quem vai arriscar investir no Brasil?”, indagou presidente de grande multinacional em entrevista à Folha, argumentando que o país perdeu a previsibilidade e recuou 20 anos.

Há de fato um custo muito maior do que parece quando se cometem erros como o dos últimos quatro anos no Brasil, que impõem a necessidade de brutal reversão de curso. Mesmo que seja na direção correta, a simples mudança de regras tem custo muito alto. A vida real é mais complexa do que a retórica política, e as decisões de curto prazo muitas vezes se chocam contra as decisões de longo prazo necessárias para gerir um empreendimento.

A tentativa de se manter o consumo a qualquer custo, embora o problema do Brasil não fosse de demanda, mas de oferta de bens e serviços, levou as autoridades a diminuírem impostos pagos por vários setores, que se estruturaram e investiram levando em conta aquele nível de taxação.

Agora que a necessidade de ajuste fiscal se impôs diante da trajetória perigosa das contas públicas, aplicam-se abruptamente medidas de curto prazo, como alta de impostos e reonerações, que geram custos às empresas e mudam o cenário no qual basearam planos e investimentos.

As empresas planejam a longo prazo. A previsibilidade, a simplicidade para fazer negócios e o custo tributário estão entre os maiores fatores do desenvolvimento sustentável dos empreendimentos e, por consequência, da economia. Mudanças abruptas que elevam a complexidade e o custo da tributação alteram o planejamento e causam danos duradouros.

A única saída da recessão atual são os investimentos privados. Por isso, o importante agora é a sinalização de políticas pró-crescimento dentro de um arcabouço normativo de longo prazo que visem de fato viabilizar investimentos, começando com regras para concessões de infraestrutura baseadas na competição e não em retornos definidos pela burocracia. O passo seguinte serão os investimentos em produtividade e no incremento do volume da produção, que virão com o aumento da confiança e do consumo.

As constantes mudanças, mesmo no rumo certo, estão entre as grandes causas da desconfiança que inibe investidores. É fundamental estabelecer regras que facilitem o investimento e a produção, dando confiança aos empresários de que não haverá mudanças abruptas. É importante também reformas que simplifiquem a tributação, eliminem burocracia e aperfeiçoem o ambiente de negócios. Após medidas duras do ajuste fiscal e monetário, é preciso facilitar a vida de quem quer produzir e trabalhar.

Em resumo, com reformas será possível ao Brasil voltar a crescer e atrair o investimento, mas precisamos de fato estabelecer regras positivas e duradouras.

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 28 de junho de 2015.

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