Henrique Meirelles: ‘Por quem os juros sobem’

BC vem subindo as taxas desde outubro, apesar da recessão, para controlar a inflação. Esta política monetária é inequivocamente a forma eficaz de combater a elevação de preços, diz, em artigo, o ex-presidente do BC.

15/06/2015

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Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e colaborador do Espaço Democrático

O fato de o Banco Central subir os juros enquanto a economia está em recessão gera muita controvérsia. A razão da alta é simples: a inflação está elevada e, muito importante, as expectativas estão acima da meta para este e os próximos anos.

Para este ano, alguns analistas já esperam inflação de 9% por causa do impacto da correção dos preços administrados, que ficaram represados por anos. A inflação, entretanto, já estava alta devido a um desequilíbrio entre oferta e demanda, razão básica de elevação de preços. Os incentivos ao consumo não foram acompanhados por aumento dos investimentos visando maior oferta de bens, o que gerou desequilíbrios.

Para controlar a inflação, o Banco Central vem subindo os juros desde outubro, apesar do ambiente já recessivo. Essa conjuntura realimenta dúvidas antigas, populares no Brasil e na América Latina, mas ultrapassadas nas economias mais desenvolvidas, sobre a eficácia da alta de juros contra a inflação. Busca-se, assim, justificar a aplicação de métodos alternativos, já testados e fracassados em várias regiões, inclusive no nosso país.

A política monetária clássica de alta de juros, transmitida à economia por canais como o crédito, o câmbio, a expectativa de inflação e outros, é inequivocamente a forma eficaz de combater a elevação de preços. Mesmo em ambiente recessivo, subir os juros é necessário pelo simples fato de a inflação estar alta.

E um dos fatores que mais alimentam a inflação é o fato de os formadores de preço – como dentistas, advogados, indústrias e varejistas – esperarem que ela siga acima da meta de 4,5% estabelecida pelo governo. Assim, esses agentes reajustam preços baseados na expectativa de inflação alta no futuro.

Isso traz grandes custos à sociedade, como desemprego e recessão, já que, para trazer a inflação à meta, a queda da demanda e da atividade econômica tem de ser maior do que se a expectativa estivesse na meta. Por isso, o controle das expectativas é um dos fundamentos do controle de inflação no sistema de metas adotado pelo Brasil.

Independentemente de controvérsias, é necessário, portanto, que as medidas contra a inflação sejam suficientemente fortes e comunicadas com clareza para que haja queda consistente das expectativas para 2016 e 2017. Se convergirem à meta, permitirão redução considerável dos juros e retorno do crescimento.

A economia brasileira só voltará a crescer de forma vigorosa e sustentável com reformas estruturais. Mas, quanto mais rápidos e eficazes forem o ajuste fiscal, o acerto dos preços administrados e a contenção da inflação, mais condições o país terá para retomar o crescimento e melhorar o padrão de vida de toda a população.

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 14 de junho de 2015.

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  1 Comentários

  • Prezado Dr. Henrique Meirelles,
    Como vosso admirador, desde quando assumiu o Ministério da Fazenda, tenho uma pergunta:
    Qual vossa opinião sobre o impacto da capitalização dos juros (digo: mensal e em vários contratos de capital de giro/arrendamento mercantil/CCB capitalização até diária) para empréstimos de grandes quantias à médio e longo prazos (amortização de 2 até 35 anos) no que se refere a médias e grandes empresas brasileiras? Sabemos que esta capitalização está para ser julgada na ADI nº2316 que está no STF, cujo objetivo é determinar se o art. 05º da MP 2170-36 de 2001 é ou não constitucional. Agradeço antecipadamente seu comentário e parabenizo pelo excepcional serviço ao nosso País. Saudações Liberais. Eduardo Terovydes Junior

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