Henrique Meirelles: ‘Quando o futuro chegar’

Para o ex-presidente do BC, o Brasil tem forças estruturais capazes de ancorar as expectativas de recuperação e desenvolvimento. "Mas precisamos consolidar o entendimento sobre as medidas para atingi-la."

21/03/2016

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Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e colaborador do Espaço Democrático

 

Esta crise, por mais grave que seja, não acabará com o Brasil, evidentemente. Passado o vendaval, o país estará aqui com os mesmos problemas e a mesma população. Por isso, é fundamental buscar compreensão técnica e lúcida das questões econômicas e dos caminhos factíveis para o Brasil voltar a crescer.

Será, então, necessário sinalizar de forma clara e crível a adoção de políticas adequadas para reverter o quadro atual, começando por aumentar a confiança de consumidores, investidores e empresários, indispensável a qualquer recuperação.

O Brasil já mostrou que é capaz de enfrentar com sucesso situações gravíssimas. Por muitos anos, e após sucessivos planos voluntaristas fracassados, havia enorme ceticismo com o combate à inflação. Mas, na década passada, o país venceu esse desafio com políticas monetárias e fiscais adequadas.

A vitória contra a inflação na época e a redução em alguns períodos da dívida pública, que, juntas, reduziram os juros, mostraram como, com foco e determinação, o país consegue adotar soluções difíceis, mas indispensáveis para melhorar a vida dos brasileiros.

A inflação voltou a ser alta e resistente, mas não há problema estrutural que a impeça de convergir à meta de 4,5%. É um desafio, mas o país já mostrou que é capaz de superá-lo.

A questão fiscal, no entanto, segue preocupante e tem impacto crescente na confiança. A trajetória da dívida pode atingir níveis insustentáveis sem ajuste de gastos públicos que enderecem vinculações constitucionais e despesas previdenciárias. Isso deve vir em conjunto com reformas pró-crescimento, indispensáveis para equilibrar as contas de forma sustentável.

O Brasil tem forças estruturais capazes de ancorar as expectativas de recuperação e desenvolvimento -a escala do mercado nacional, dos maiores do mundo, eleições livres e regulares, imprensa independente, amadurecimento crescente da população ao demandar inflação baixa e controlada e maior qualidade de serviços públicos e privados, empresas sofisticadas e bem geridas e o espírito empreendedor e trabalhador da população.

Dentre as questões mais conjunturais e favoráveis, temos melhora das contas externas e reservas internacionais de mais de US$ 370 bilhões, um colchão de liquidez fundamental para navegar nesse mar de incertezas.

Se o Brasil mantiver estes pontos fortes e se concentrar em resolver os problemas estruturais via ajuste fiscal e medidas que estimulem nossa produtividade e competitividade (reformas fiscal, tributária e previdenciária), com melhoras na educação e na infraestrutura, o país pode voltar a crescer a taxas elevadas na próxima década. Esta é uma meta que todos queremos. Mas precisamos consolidar o entendimento sobre as medidas para atingi-la.

 

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 20 de março de 2016.

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