Encontro Democrático

Brasil inicia nova fase na política externa. Mas precisa saber o que quer

Em palestra, ex-embaixador Rubens Barbosa diz que, no governo Temer, Itamaraty deve voltar a defender os interesses e os valores nacionais, mas precisa definir com clareza seus objetivos diplomáticos

31/08/2016

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Ex-embaixador Rubens Barbosa: “É uma nova fase, com a defesa dos valores e interesses nacionais, da integração nacional e expansão comercial".

Ex-embaixador Rubens Barbosa: “É uma nova fase, com a defesa dos valores e interesses nacionais, da integração nacional e expansão comercial”.

 

Depois de mais de uma década praticando uma política externa que muitas vezes contrariou os interesses nacionais, sem trazer resultado expressivo em termos diplomáticos ou comerciais, o Brasil tem agora – no governo Temer – a chance de reverter essa situação, adotando como norma a defesa dos interesses e valores nacionais e buscando se reaproximar dos maiores mercados do mundo. Essa foi a avaliação que o ex-embaixador Rubens Barbosa fez em sua palestra no Encontro Democrático promovido nesta segunda-feira (29) pelo Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política.

Barbosa, que já representou o Brasil em Londres, em Washington e na Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) e preside hoje vários organismos voltados para o comércio exterior, alertou, no entanto, para a necessidade de o Brasil definir de forma clara e permanente seus objetivos nas relações exteriores. “Todos os resultados dependem disso”, afirmou.

O Encontro Democrático desta segunda-feira – que teve a participação também da coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, de acadêmicos da área de Relações Externas e de candidatos do partido às eleições deste ano –, integra a série de debates que vêm sendo realizados pelo Espaço Democrático há mais de um ano para discutir questões de interesse da sociedade brasileira. Os encontros têm o objetivo de produzir conteúdo que sirva de base para as ações e propostas de parlamentares e gestores do partido. A íntegra dos debates é publicada no site da Fundação.

 

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Rubens Barbosa: “O PT colocou a solidariedade ideológica acima dos interesses nacionais”

 

Em sua palestra, o embaixador Rubens Barbosa lembrou que, durante os governos Lula e Dilma Rousseff, optou-se por definir a política externa brasileira com base na visão de mundo do PT, na qual os Estados Unidos são um país decadente e a globalização chegou ao fim. “A partir daí, chegou-se à conclusão de que era preciso mudar o eixo de relacionamento externo, passando-se a privilegiar a relação com países em desenvolvimento”, explicou.

De acordo com ele, com essa relação Sul-Sul implantada pelo governo petista, o Brasil ficou praticamente isolado do mundo em termos de relações comerciais. “Houve algumas iniciativas importantes, como a institucionalização do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de organismos latino-americanos como o Unasul, mas a prioridade dada à África e países da América do Sul com os quais a relação comercial sempre foi e continua sendo marginal, apesar de todos os esforços, trouxe resultados econômicos muito limitados”, afirmou.

Barbosa lembrou ainda que essa política de isolamento em relação aos grandes mercados mundiais teve um custo social, na medida em que os acordos comerciais com grandes parceiros são muito importantes em termos de geração de empregos e desenvolvimento. “Ficamos isolados da onda de acordos comerciais que ocorreu no mundo nos últimos anos”, disse. Ele lembrou que apenas três acordos comerciais foram assinados pelo Mercosul, contra mais de 400 no mundo todo, no mesmo período.

Além disso, recordou, o Mercosul se transformou num polo de discussões políticas e sociais, ignorando totalmente as políticas de integração e desenvolvimento econômico da região. “O PT colocou a solidariedade ideológica acima dos interesses nacionais, como no caso da expropriação da refinaria brasileira na Bolívia e no acordo feito com a Venezuela para construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco”, afirmou.

No governo Michel Temer, com a chegada de José Serra ao Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Rubens Barbosa acredita que já houve mudanças importantes no cenário. “Desde sua posse, o ministro Serra já deixou claro que a defesa dos interesses do Brasil está acima das questões ideológicas e/ou partidárias. Essa, aliás, é a posição que o Itamaraty sempre defendeu, desde sua criação pelo Barão do Rio Branco”, lembrou.

O palestrante citou ainda outras diretrizes estabelecidas por Serra para sua gestão no Ministério, como a defesa dos valores internos do País. “No governo do PT, isso não ocorreu nem na área de direitos humanos – como no caso dos pugilistas cubanos que pediram asilo no Brasil, mas foram devolvidos a Cuba pelo governo – e nem na defesa da democracia, com o Itamaraty coonestando tudo o que ocorreu na Venezuela e na Bolívia”.

Outros pontos estabelecidos pelo novo ministro, lembrou Rubens Barbosa, foram a ênfase no comércio exterior, levando para o Itamaraty as decisões sobre a política comercial externa; a valorização da parceria com a Argentina e a renovação do Mercosul; e a volta da prioridade ao relacionamento com os países desenvolvidos, buscando expansão do comércio. “É uma nova fase, com a defesa dos valores e interesses nacionais, da integração nacional e expansão comercial”, concluiu.

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