Henrique Meirelles: ‘O ano das revelações’

Em artigo, ex-presidente do BC mostra como os países que adotaram o "capitalismo de Estado" agora enfrentam crises, ao contrário daqueles que adotaram os caminhos do liberalismo, que retomam crescimento sustentável.

03/08/2015

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Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e colaborador do Espaço Democrático

2015 tem sido explícito. As projeções econômicas na América Latina apontam recessão severa na Venezuela e no Brasil. O governo esquerdista grego flertou com saída radical e populista da crise e acabou aceitando ajuste mais profundo do que rejeitara pouco antes. A China dá sinais de instabilidade e insegurança econômica com volatilidade aguda na Bolsa e crise fiscal nas Províncias após excesso de gastos. O crescimento chinês pode cair nos próximos anos para a faixa de 5%, metade do visto na década passada. Na Rússia, a recessão pode chegar a PIB de -4%.

A situação desses países revela uma enorme reversão da situação poucos anos atrás. Em janeiro de 2012, por exemplo, a “Economist” deu uma capa vermelha com a imagem de Lênin fumando um charuto e a manchete “A ascensão do capitalismo de Estado”.

A revista britânica, baluarte do liberalismo econômico, falava do novo prestígio do dirigismo estatal da economia, que, segundo seus defensores, proveria estabilidade e crescimento sustentável. Não aconteceu.

Nesse período, a Índia fez uma inflexão ao eleger governo pró-mercado e pró-investimento privado e começa, pela primeira vez, a ter projeção de crescimento superior à da China. A Alemanha sustenta crescimento sólido. O Reino Unido dá sinais consistentes de recuperação. E a maior economia mundial, os EUA, gera empregos, consumo e investimento.

Estamos diante de uma inversão dramática de expectativas em escala global. E o Brasil é caso exemplar. O país testou nova matriz econômica baseada em expansão de gastos públicos, juros artificialmente baixos e maior intervenção governamental visando turbinar o crescimento econômico sob a direção de Brasília. Como sabemos, o experimento fracassou completamente, e o governo mudou de rumo.

O Brasil hoje enfrenta juros básicos de 14,25% –regredindo a patamar da fase inicial da estabilização da economia–, ajuste fiscal e crescimento preocupante de dívidas que pode tirar do país o selo de bom pagador.

Voltamos, portanto, a enfrentar os fantasmas do aumento do risco, da insolvência fiscal, da inflação e da instabilidade que julgávamos parte do passado.

Enquanto isso, países com sólida economia de mercado, liberdade de competição e mercados de capitais fortes concluem ajustes cíclicos (inevitáveis nas trajetórias econômicas) e retomam crescimento sustentável. A presença da Índia neste grupo demonstra que a diferença é a orientação econômica, não o nível de renda.

Vamos aproveitar essas lições. Expandir os gastos é sempre agradável enquanto acontece, mas é necessário combinar com quem paga a conta, principalmente se forem credores que não estão usufruindo diretamente das benesses dos gastos governamentais.

 

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 2 de agosto de 2015.

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  1 Comentários

  • Alvelino Maschion disse:

    Acho que o Governio faicilitou muito onde realmente nao até ´precisava, surripiando os aposentados onde é a melhor maneira de distribuir rendas que pelo menos o dinheiro vai na mão de quem sabe gastar. do trabalhador aposentado, principalmente daqueles que realmente recolheram, neste caso houve uma quebra de trato, pois quem recolheu sobre 10 salarios aposentou em 1995, recebe hoje menos de R$-2.300,00. Sem contar com os Bancos que estão também surrupiando os pobres que foram explorados por oferecimento de Cartões e Cheques especiais sem terem o Educação civilizada que o mercado explora, porque o Rico não paga tarifas e nem cai nessas a não ser os corruptos que não precisa fazer conta de nada. Quem sou eu para falar para o Dr.Meireles, tem outra , achio que AS RÉDEAS TEM

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