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Kassab: “O eleitor sabe o que é importante”

Revista Época (08/10/2011) - Entrevista com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, sobre a criação do partido e eleições 2012.

10 de out de 2011 · Época, Kassab, PSD

No gabinete no 5º andar da sede da Prefeitura de São Paulo, no Vale do Anhangabaú, o prefeito Gilberto Kassab comemora sua maior promoção política. Antiga personalidade municipal, quadro intermediário do DEM, legenda herdeira do velho PFL do regime militar, Kassab tornou-se um cacique de projeção nacional depois que o Tribunal Superior Eleitoral legalizou o PSD, partido que ele tirou do plano das intenções no final do ano passado para transformar numa das cinco maiores legendas de Brasília. A um ano do primeiro turno da eleição na qual sua sucessão estará em jogo, Kassab tem pela frente uma tarefa muito mais complicada do que cumprir as formalidades indispensáveis para criar uma legenda. Precisa dar credibilidade a uma sigla que se declara independente, mas nasceu sob estímulos discretos do Planalto de Dilma Rousseff. Também deve agradar a suas tradicionais bases políticas conservadoras ao mesmo tempo que defende noções como um “Estado forte”, mais apropriadas para os partidos que sempre foram seus adversários. Kassab diz que isso é possível, como tenta demonstrar nesta entrevista a ÉPOCA.

ÉPOCA – Foi fácil montar um partido com 52 deputados?
Gilberto Kassab – Primeiro, não é mérito pessoal, é um trabalho coletivo, de um grupo de lideranças de vários Estados que acreditava haver um espaço para a criação de um partido com esse perfil. Essas lideranças se sentiam desconfortáveis em seus partidos, como era o meu caso. Houve muita unidade de ação, que permitiu que a gente criasse esse partido em tão pouco tempo.

ÉPOCA – Os deputados que serão candidatos à prefeitura em 2012 pediram ajuda financeira para se filiar?
Kassab –
Ninguém fez isso. Perca o respeito por mim se souber que alguém pediu. Não houve nenhum pedido. Foi um processo muito transparente.

ÉPOCA – Então por que eles vieram?
Kassab – A maior parte dos integrantes do PSD vem do DEM. Entre os 52, 17 eram do DEM. Eles formam a maior parte do PSD, mas não são maioria. Eles mudaram porque, como eu, não se sentiam bem em seus partidos.

ÉPOCA – Qual é o problema com o DEM?
Kassab – A oposição que o DEM fazia e faz é pouco inteligente. Uma oposição igual à do PT no passado, quando nunca tinha sido governo. No dia em que o PT perder, não poderá repetir o que fazia antes. Não vai poder criticar o que ele mesmo fez nem cobrar o que não fez. O DEM fazia críticas de uma maneira ridícula. Partido político não é time de futebol. Você não pode ficar contra uma medida que acha correta só porque é oposição.

ÉPOCA – Quando o senhor começou a dizer essas coisas, recebeu muitas críticas da oposição…
Kassab – As críticas eram políticas, e parte da imprensa comprou. A oposição está totalmente descoordenada. Por ineficiência, por equívocos, por falta de quadros, por falta de humildade, de inteligência política…

ÉPOCA – Falta de humildade?
Kassab – Qual é o problema de você reconhecer um acerto do governo? Quantas vezes você me viu elogiar o presidente Lula? E criticar também? Mas ninguém foi mais aliado do Serra do que eu.

ÉPOCA – Como o senhor avalia o governo Dilma?
Kassab – Acho que ela está indo bem. 

ÉPOCA – Isso implica algum apoio?
Kassab – Não. Eu não votei nela, não trabalhei por ela, mas sou brasileiro. São coisas distintas. Qualquer que seja o presidente, cabe a nós ajudar. Felizmente, a Dilma está bem, e isso me deixa contente. Falta humildade à oposição.

ÉPOCA – O PSD fará parte da base do governo Dilma?
Kassab – De maneira alguma. O partido será independente até 2014. Esse é nosso compromisso com todos os que vieram para o PSD. Apoiei a candidatura do José Serra para presidente. Da mesma maneira que outros apoiaram a candidatura da presidente Dilma. Seremos coerentes com aquilo que acreditamos que é o melhor para o país. Somos um partido que defende um Estado forte.

ÉPOCA – Não é estranho que tantos antigos integrantes do DEM apoiem um Estado forte?
Kassab – Quem acha que o Estado deve ser de outro jeito continua no DEM. O PSD é outro partido.

ÉPOCA – E para que o PSD quer um Estado forte?
Kassab – Porque precisamos de uma intervenção forte na educação, de uma resposta forte na saúde. A população usa cada vez mais os serviços públicos, e precisamos de um Estado capaz de responder a isso.

ÉPOCA – Os jornais dizem que o PSD está se reaproximando do governador Geraldo Alckmin e também de José Serra.
Kassab – Nunca houve afastamento. Houve um estresse. Alguns líderes do PSDB entendiam que o PSD era uma dissidência do governo. Mas o tempo foi mostrando – e você sabe que paciência é uma virtude – outra coisa. 

ÉPOCA – No ano que vem, teremos eleições municipais. O senhor acredita que tem cacife para bancar seu sucessor?
Kassab – Seria muita pretensão.

ÉPOCA – A prefeitura não está com boa aprovação popular…
Kassab – Discordo. Na grande maioria das pesquisas, nosso índice de ótimo e bom oscila em torno de 30%. Regular, em 40%. Ruim e péssimo, 25%. Depois de sete anos, 75% entendem que a prefeitura é regular, boa ou ótima. Isso é aprovação.

ÉPOCA – A oposição diz que o senhor tem mais de R$ 7,8 bilhões no cofre e está guardando tudo para o ano que vem, em vez de beneficiar a cidade com investimentos úteis desde já.
Kassab – Se a oposição diz isso, é porque não aprendeu nada. Eles deixaram um rombo de R$ 3 bilhões. O eleitor está maduro e sabe o que é importante. Não quero meu nome em placa de obra. Prefiro dar R$ 2 bilhões para construir estações do metrô a fazer 20 pontes para carros. Faço o que acho necessário. Já ganhei uma eleição assim.

ÉPOCA – O senhor acredita que seu candidato, que ainda não está definido, pode chegar ao segundo turno?
Kassab – Quando as pessoas são perguntadas hoje, respondem sem uma reflexão. É natural. Existe uma tendência de lembrar o que há de ruim. A pessoa acaba de ver um buraco na rua em frente de casa. Mas na campanha ela vai ver que em nossa gestão foram tapados 3 milhões de buracos – e apenas 100 mil na gestão anterior. Ou ela vai lembrar que às vezes está insatisfeita porque naquela semana tem uma lâmpada quebrada na rua dela, mas depois vai perceber que a manutenção da iluminação pública é dez vezes mais eficiente agora. Acabamos com as salas de lata e vamos acabar com o terceiro turno nas escolas. Numa campanha, você tem oportunidade de fazer essas colocações. E o eleitor está lá em casa, assistindo à televisão e avaliando. A reflexão tende a aumentar.

ÉPOCA – O senhor acredita que em 2012 teremos uma eleição ideal para rostos novos?
Kassab – Não tem sido essa a postura do eleitor paulistano. A responsabilidade do prefeito é muito grande, requer muita experiência e conhecimento da cidade, muita habilidade de negociação política. São Paulo tem a dimensão de um país, com uma Câmara Municipal que é quase um Congresso. Também tem problemas de segurança, enfrenta o crime organizado. É por isso que, nas últimas eleições, São Paulo sempre fez opção por pessoas com experiência comprovada. O eleitor é conservador nesse aspecto, por entender quanto é grande a responsabilidade.

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